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"...Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente." João 10.10 NVI



"...Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente." João 10.10 NVI

O que é essa vida plena que Cristo providenciou para nós? Como temos acesso a ela?

Esse mesmo versículo, João 10.10, na edição revista e corrigida da tradução bíblica de João Ferreira de Almeida está colocado da seguinte maneira: "...Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.". E esse versículo já foi abordado aqui no blog de uma maneira superficial, mas neste texto vamos aprofundar um pouco mais nosso entendimento sobre esse tema que é tão importante para o desenvolvimento espiritual de qualquer um de nós.

A primeira coisa que devemos perceber é: Vida com abundância não significa vida com excesso do que quer que seja. Vida com abundância significa abundância de vida.

Como assim?

Vida com abundância, significa simplesmente vida plena, e isso é muito diferente de uma vida repleta de todo tipo de coisas (dinheiro, bens, posses, mantimentos, objetos etc...), mas sim uma vida em que nós nos sentimos realmente vivos, na mais ampla acepção da palavra, em pleno contato com toda a vitalidade essencial que há na nossa existência; Por isso também Jesus disse o que foi registrado em Mateus 6.25; está escrito: "Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que mantimento, e o corpo mais do que vestuário?".

Muitas pessoas experimentam uma vida repleta de coisas de todos os preços, tamanhos, modelos, sabores e tudo o mais que lhes é possível conseguir, mas mesmo assim sentem-se profundamente angustiados, oprimidos, e até deprimidos, justamente porque acreditaram na mentira social do espírito do mundo que diz, dissimuladamente, que mais coisas é igual a mais vida; assim sendo, passam a lutar com todas as forças, e até se sacrificar loucamente, para adquirir e acumular, compulsivamente, tudo o que a sociedade diz que devem possuir, e não se dão conta de que no fundo, suas coisas são tudo o que eles têm, pois perderam completamente o contato com a vitalidade essencial da própria existência. Eles vivem, mas não se sentem plenamente vivos, é como se sempre houvesse uma espécie de vácuo devorador dentro deles que, por mais que tentem, não conseguem preencher com as coisas que tanto desejam, conseguem e acumulam repetidamente e em quantidades cada vez maiores. Foi também por perceber isso em si mesmo, e na multidão ao seu redor, que o escritor irlandês Oscar Wilde, nascido em uma família protestante, em um lampejo de lucidez, declarou a conhecida frase que diz: "Viver é a coisa mais rara do mundo, a maioria das pessoas apenas existe.".

Semelhantemente, foi também ao notar, entre outras coisas, que as pessoas estavam cada vez mais tentando "viver" somente através de suas coisas, em quantidades cada vez maiores, como se isso fosse abundância, que Benjamim Franklin disse certa vez: "Algumas pessoas morrem aos 25 anos, mas só são enterradas aos 75.". Ou seja, a busca alucinada pelo que a sociedade chama de abundância, ainda nos dias de hoje, está inutilizando a existência das pessoas, não aos 25 como Franklin observou, mas cada vez mais cedo; e os mantendo nesse estado de "não-vida" pelo tempo que caminharem sobre a face da terra. É por esse motivo, também, que o conhecido texto de Apocalipse 3.17(NVI) fala algo muito duro sobre essas pessoas; está escrito: "Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada, não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu.". Em outras palavras, o que esse versículo também está dizendo é que por verem a si mesmos como indivíduos socialmente abastados, além do que o que realmente necessitam, muitas pessoas acreditam que possuem abundância, mas não percebem que perderam o contato com a essência da vida que há além da superfície social. Mais coisas, mais luxo, mais conforto, mais fortuna, mais prazeres, mais realizações e mais de tudo o que a sociedade tenta nos induzir, sedutoramente, a perseguir e consumir de modo tão voraz e frenético, não significam mais vida, logo, não caracteriza uma vida realmente abundante; por isso o próprio Cristo disse o que foi registrado em Lucas 12.15, que é: "...A vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.". Pois uma vida abundante (plena em todos os sentidos) repousa muito além de tudo o que a sociedade exige e ordena que as pessoas obtenham e acumulem a todo custo.

Todo cristão verdadeiro sabe que não há absolutamente nada na sociedade, nem bens, nem vitórias, nem sucesso, nem fama, nem fortuna, nem poder, nem status, ou qualquer outra coisa semelhante, que possa tornar a vida de alguém em uma vida realmente abundante, pois essa abundância (plenitude) da qual Jesus está falando em João 10.10 é um atributo espiritual que Deus deseja que todo ser humano desenvolva, pois só assim poderemos viver de verdade, quer tenhamos muito ou pouco em termos sociais. A abundância verdadeira repousa dentro de cada homem e mulher que caminha sobre a terra, e deve ser conscientemente desenterrada de sob essa montanha de "coisas" que a sociedade nos induziu a acumular desde a infância, coisas essas que podem ser, e geralmente são, internas (desejos, sonhos, vaidades, paixões, sonhos, metas, ambições, ganâncias e etc...), e externas (bens, posses, objetos e dinheiro). Quando entendemos isso a nossa vida sofre uma metamorfose e deixa de estar baseada nos padrões do senso comum e do status quo que governam a sociedade, mas passa a estar enraizada profundamente no "nosso" ser, na essência viva da nossa existência, que é a presença consciente e silenciosa que existe em nós, acima e além da nossa mente natural tão superficial e ruidosa, o nosso espírito; e esse sim é completo em todos os sentidos, repleto de alegria, satisfação, fé, felicidade, serenidade, paz, segurança, confiança, gentileza, generosidade, equilíbrio, amor e muitas outras virtudes.

No momento em que passamos a viver com base em tais virtudes espirituais, em outras palavras, quando deixamos que elas existam plenamente através de nós, começamos a existir de maneira plena; e é isso o que Jesus quer dizer quando usa o termo "vida com abundância" no texto de João 10.10. Ao nos "conectarmos" conscientemente com essa abundância (essência vital intensa) que faz parte do nosso espírito, ela passa a jorrar em nós e através de nós, como o próprio Cristo disse que ocorreria no texto de João 4.14 (NVI), ao falar: "...A água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna.". Entenda que quando Jesus diz "água" nesse texto, ele está se referindo a vida abundante (plena) cuja fonte é o Espírito de Deus e cujo leito somos nós; ou seja, o que Cristo está revelando nessa passagem é que todo aquele(a) que se unir com a Fonte essencial de toda a vida, que é Ele, conseguirá realmente viver recebendo todos os benefícios espirituais, mentais e físicos que as virtudes do espírito podem produzir na vida de uma pessoa. Assim sendo, passamos a pensar, sentir, falar e agir de uma maneira tal que tudo o que nós realmente necessitamos para viver bem, com suficiência, com simplicidade, sem paixões e sem excessos, é acrescentado divinamente à nossa vida; por isso também foi escrito no texto de Mateus 6.33, que diz: "Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.". A verdadeira abundância é uma das principais partes do Reino de Deus, e é através dela que conseguimos cultivar uma existência valorosa e totalmente adequada em todos os aspectos.

Se nos conscientizarmos dessa verdade ela nos libertará da constante busca por uma "vida completa" através de tudo o que a sociedade tenta nos vender como solução para a vida moderna, sejam coisas como conceitos, metas, objetivos, sonhos, ambições, ideologias, objetos, bens ou quaisquer outras coisas semelhantes; e assim a nossa existência passa a emanar essa verdadeira abundância, quer sejamos milionários ou estejamos em um momento de escassez, exatamente como ocorreu com vários cristãos do passado, como Paulo, que, também a esse respeito, escreveu em Filipenses 4.12: "...Em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome...". Quando entramos em unidade com a verdadeira vida abundante (espiritual e virtuosa) que Cristo concedeu como parte de quem nós realmente somos, nos tornamos aptos para lidar com a fartura ou a escassez social de maneira adequada, sem sermos seduzidos e consumidos pela loucura que há nelas e sem nos curvarmos às fantasias e ilusões que as multidões chamam e entendem equivocadamente, e distorcidamente, como busca por uma "abundância social" superficial, baseada apenas nas aparências, nos acúmulos e nos exageros. Foi também por esse motivo que Jesus nos concedeu um dos mais belos ensinamentos sobre esse tema, e que ficou registrado no famoso texto de Mateus 6.28-29; que diz: "...Olhai os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.".  Certamente Salomão é considerado, até nos dias atuais, como um homem cuja vida teve extrema "abundância" social, afinal ele possuía absolutamente tudo o que o dinheiro poderia comprar, construir e acumular, como o próprio Salomão declara em Eclesiastes 2.4-11, mas mesmo assim, Jesus aponta para o fato de que aquelas simples flores do campo que não se envolveram em nenhuma busca por abundância externa estavam muito mais em contato com a verdadeira essência da vida em sua simplicidade do que o grande e sábio rei jamais esteve.

Ao longo dos séculos, sorrateiramente, o espírito do mundo se apossou da palavra abundância e adicionou a ela uma conotação puramente materialista e consumista que tem desvirtuado multidões, mesmo dentro das mais variadas congregações, membros e líderes, para que pensem que uma vida abundante é uma vida com excesso de tudo; e esse é um dos maiores equívocos que as multidões estão cometendo nos dias atuais.

Certa vez li um texto interessante sobre o renomado dramaturgo britânico Somerset Maugham, tal indivíduo foi um dos autores mais famosos e socialmente bem-sucedidos do século 20. Ele tinha fortuna e era mundialmente conhecido; porém, segundo conta o seu sobrinho, também autor, Robin Maugham, no livro "conversations with Willie" (conversas com Willie), seu tio, famoso e bem-sucedido a quem todos reputavam como alguém que possuía uma vida abundante em todos os sentidos, pois aos 91 anos de idade continuava fazendo muito dinheiro com a produção, montagem e a adaptação de suas peças teatrais e outros escritos por todos os cantos da Europa; era, na mesma medida, consumido por uma tristeza voraz e brutal. De fato, veja o que ele escreveu sobre o tio: "Ele foi, com certeza, o autor mais famoso em vida. E também o mais triste...".

Se você pesquisar a biografia de várias pessoas que a sociedade considerou como indivíduos com uma vida abundante apenas porque alcançaram os tesouros sociais que lhes foram oferecidos como solução para as questões e demandas da vida, ou seja, fizeram fortuna, encontraram a fama, experimentaram o sucesso, o poder, o status, realizaram todos os seus sonhos de consumo e tantas outras coisas como essas, perceberá algo em comum entre eles, boa parte dessas pessoas teve de lidar e lutar, durante praticamente toda a existência, contra angústias, melancolias, e todo tipo de aflições de espírito (sofrimentos internos) que nunca os deixaram em paz, chegando até mesmo a seguir algumas dessas pessoas ao túmulo, pois diferentemente das palavras de Cristo, as promessas de "vida abundante" que a sociedade nos faz quase que diariamente, e em todos os lugares em que vamos, são todas vazias de essência, são apenas formas sem vida; e o final delas é sempre o sofrimento que vai ficando mais pesado e violento com o passar do tempo. Infelizmente isso ainda está acontecendo, inclusive nesse exato momento, em menor ou maior grau, com pessoas das quais você nem mesmo desconfia, mesmo as que estão dentro das mais diversas congregações, ou até com você mesmo.

E por que isso acontece?

Porque o espírito do mundo faz tudo ao seu alcance para impedir os indivíduos de perceber que o que a sociedade chama de vida com abundância é, na verdade, uma armadilha com "espinhos" afiados; apenas uma busca alucinada, repetitiva, e sem fim, por símbolos de destaque que não podem nutrir em nada quem nós realmente somos, nosso espírito, mas ao contrário, tais coisas nos afastam do nosso verdadeiro eu e drenam toda a nossa vitalidade. Se não despertarmos, tal busca alucinada e o acúmulo sem propósito de todos esses símbolos vão nos soterrar internamente, impedindo que tenhamos contato com a verdadeira essência vital que há em nós. 

A vida abundante deriva diretamente do espírito, fluindo da Fonte Eterna que é o Espírito de Deus, e sem esse fluxo espiritual regando e nutrindo o desenvolvimento pleno de todas as virtudes espirituais que há em nós não existe abundância, mesmo que tenhamos fartura, fortuna e toneladas de tudo o que ela pode comprar. De fato, enquanto cada vez mais pessoas ao redor do planeta estão lutando loucamente, com todas as forças físicas e mentais, e até se sacrificando, na busca pelo ideal social de vida abundante, os verdadeiros cristãos entenderam logo cedo que a verdadeira vida abundante (plena) citada por Jesus pode ser alcançada sem muito esforço contanto que seja procurada no lugar certo, que é no nosso próprio espírito.

Para terminar esse texto deixe-me contar um breve relato do encontro entre duas pessoas, uma possuía uma vida socialmente abundante e outra estava muito perto de encontrar a verdadeira abundância, embora não o tenha feito, mas creio que esse relato seja valido como uma ilustração para pontuar a diferença entre essas duas maneiras de percepção sobre a abundância da vida.

Conta-se que o famoso general e conquistador macedônico, conhecido até os dias atuais como Alexandre o Grande, rei da macedônia, rei da pérsia, faraó do Egito, e muito mais, ouviu falar sobre um filósofo chamado Diógenes e quis encontrá-lo; o fato era que o tal filósofo vivia voluntariamente como um mendigo pelas ruas de Corinto, e costumava carregar uma lamparina acesa em plena luz do dia, dizendo estar em busca de uma pessoa que fosse realmente honesta. Alexandre, que era visto por todos como um homem cuja vida possuía a maior abundância social dentre todos os seus contemporâneos, ao encontrar tal filósofo sentado em uma escadaria aproveitando e saboreando a luz solar, se apresentou da maneira como a sociedade nos condiciona a fazer até nos dias atuais; ele disse: "Eu sou Alexandre, o grande, possuo muitas riquezas e os reinos se curvam diante de mim". Ao que o "mendigo" Diógenes respondeu: "Eu sou Diógenes e isso me basta.".

Espero que você tenha percebido qual daqueles dois homens estava mais perto da verdadeira vida abundante da qual Cristo está falando em João 10.10, embora provavelmente nenhum deles a tenha realmente experimentado.

Uma vida com abundância é aquela na qual nada nos falta ainda que tudo nos falte. Também por isso o Apóstolo Paulo escreveu o que está registrado em Filipenses 4.7, que diz: "Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.". Paulo, quando ainda se chamava Saulo, possuía uma vida socialmente considerada como abundante, tinha prestígio, influência, uma posição religiosa, e até ligeiramente política, privilegiada, e muito mais. Porém, após ser encontrado por Cristo percebeu que nenhuma daquelas coisas era a verdadeira vida abundante que Jesus concedeu a todos nós, e ao se conectar com a essência vital que havia dentro dele, no seu espírito, proveniente diretamente do Espírito de Deus, finalmente encontrou a real vida abundante que está à disposição de todos nós, e abriu mão de tudo aquilo que para ele, Paulo, já não fazia mais sentido. 

Quer dizer que devemos fazer como Diógenes, abrir mão de tudo o que possuímos e vivermos em completa escassez?

Lógico que não. Porém, se não nos desapegarmos e desvencilharmos desse conceito deturpado, sedutor, ilusório e tóxico de abundância que a sociedade, e até muitas congregações, veneram, cultuam e adotaram como padrão de vida, falharemos miseravelmente em viver de forma plena (completa, perfeita) assim como Somerset Maugham, o próprio Alexandre da Macedônia e bilhões de outras pessoas famosas e anônimas através dos séculos. Entretanto, ao elevarmos o nosso entendimento e a nossa consciência sobre o que a real abundância divina é, nos conectamos com a essência vital perfeita que há no nosso espírito, e ao fazermos isso estamos nos tornando um com o próprio Cristo, pois como Ele mesmo afirmou em João 14.6: "...Eu sou o caminho, e a verdade e a vida...".

Enquanto procurarmos uma vida abundante fora de nós mesmos, fora do nosso espírito, sob os termos da sociedade, a verdadeira vida abundante continuará adormecida no nosso interior e será sempre como um mistério para a nossa mente, mas quando, usando a luz da Escritura Sagrada, procurarmos essa vida abundante dentro do nosso próprio espírito, ela despertará e nos encontrará; assim, estaremos finalmente completos, e livres, independentemente das condições externas da nossa existência social.

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