"Os sábios entesouram a sabedoria..." Provérbios 10.14a

 

"Os sábios entesouram a sabedoria..." Provérbios 10.14a

Pergunte a uma pessoa na sociedade, ou mesmo dentro das mais diversas congregações, o que ela precisa para viver bem e feliz; muito provavelmente ela responderá com uma lista de coisas que deseja alcançar, ter, fazer e conquistar; como, um emprego melhor, deixar de trabalhar para os outros, ganhar mais dinheiro, obter mais bens materiais e posses diversas, encontrar sua alma gêmea, casar, ter filhos, viajar, morar em outro país, comprar uma casa própria, ou uma casa maior, trocar de carro, emagrecer, ter mais fé, ser mais reconhecido(a), e uma vasta gama de outras metas, ambições e sonhos semelhantes a esses. Mas o que a maioria das pessoas não sabe é que elas não precisam de absolutamente nenhuma dessas coisas para viver realmente bem e felizes, porém, como foram doutrinados, involuntariamente, desde a infância pela sociedade para que acreditem que tais coisas e realizações sociais, pessoais, financeiras, profissionais, religiosas, ou até espirituais, são o que determinam a capacidade dos indivíduos de serem felizes e viverem bem, tais pessoas acabam sendo enganadas por sua própria mente sem se dar conta de que, em grande parte das vezes, a busca inconsciente e desequilibrada que estão travando para alcançar e acumular (entesourar) tudo aquilo que acham que é necessário para viver bem é justamente o que está tornando a vida deles em uma experiência cada vez mais complexa, confusa, pesada, cansativa, penosa, e até traumática em algum grau.

Uma das verdades que espírito do mundo mais se esforça para esconder da humanidade é o fato de que quanto mais nós nos engajamos em sonhar, desejar, ambicionar, buscar, lutar, obter e acumular todas as coisas que a sociedade afirma que são necessárias para vivermos bem, e felizes, mais a nossa mente e a nossa vida ficará em desarmonia com o nosso verdadeiro Eu, que é o nosso espírito, e com o próprio Deus; assim sendo, é justamente isso o que tem tornado a experiência de vida de bilhões em um verdadeiro tormento do qual, por falta de entendimento, não conseguem se desvencilhar, ou seja, muitos indivíduos passam pela existência sonhando, desejando, ambicionando, lutando, obtendo, possuindo e entesourando tudo o que lhes é dito que precisam para viver bem e felizes, tudo o que as vozes sociais (mesmo dentro de congregações) pregam que é o melhor para a construção de uma vida socialmente e supostamente perfeita; e quanto mais o fazem, mais insatisfeitos e infelizes se tornam; por isso também foi registrado o texto de apocalipse 3.17, que afirma: "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego e nu...)".

O que pouca gente sabe nos dias atuais é que a felicidade não é um atributo social, nunca foi e jamais será, embora a sociedade possua uma imitação superficial da felicidade, que ela vende, prega e alardeia dissimuladamente como se fosse a verdadeira felicidade; porém, como essa falsa felicidade social está baseada em pilares do senso comum e do status quo que não são estáveis, mas dependem de coisas  essencialmente inconstantes como a moda, as tendências, a vida das outras pessoas, e outras variáveis extremamente voláteis; qualquer cristão genuíno logo consegue identificar que as vozes sociais não estão capacitadas para nos dizer como devemos proceder para sermos felizes, de fato, uma vida realmente feliz, ou seja, uma vida pacífica, boa, plena, leve, satisfeita, significativa e bem vivida, só pode ser descoberta e cultivada quando nos relacionamos com nossa existência a partir de uma perspectiva além daquela que a sociedade nos apresenta com todas as suas promessas e seduções que norteiam os sonhos, os desejos, as ambições, as metas e os objetivos da população mundial; na verdade, viver além dos padrões de busca pela felicidade social que o senso comum e o status quo predeterminaram para a humanidade é o que vai desanuviar a nossa mente, e a nossa fé, para que possamos finalmente descobrir como viver bem e felizes em quaisquer ocasiões e sob quaisquer circunstâncias, mesmo nas mais desafiadoras.

Mas o que isso significa?

Significa que nenhum de nós precisa cumprir os desígnios que a sociedade estabeleceu para nossa vida, ou seja, para vivermos bem e felizes, não precisamos realizar uma multidão de sonhos sociais que nem são realmente nossos, mas foram sorrateiramente implantados na nossa mente, desde muito cedo, pelas mais diversas fontes, e mídias, repletas de segundas intenções; não precisamos obter e entesourar (acumular) tantas posses e objetos desejados por muitos apenas com a finalidade de impressionar ou causar inveja cada qual no seu próximo, não precisamos alcançar os mais altos patamares sociais, não precisamos ser venerados por ninguém, não precisamos que o nosso estilo de vida seja repleto de luxos, excessos e extravagâncias; pois não é em tais realizações que a verdadeira felicidade e capacidade de viver bem residem.

E onde é que está a verdadeira felicidade? Onde está uma vida bem vivida?

Pode parecer contraditório, mas uma vida boa, bem vivida e feliz está ao alcance de qualquer um que percebe que essa busca vertiginosa, frenética e alucinada por felicidade, segundo os padrões e modelos sociais, os está distraindo de encontrar a verdadeira felicidade no único lugar onde ela realmente está, que é dentro de nós, no nosso verdadeiro Eu, não no nosso Eu social que é aquele que fazemos tanta questão de enfeitar, refinar, polir e mostrar a todos que nos rodeiam, dizendo:

*Veja como sou bem sucedido(a);

*Vejam como sou inteligente;

*Vejam as viagens que faço;

*Vejam os lugares que frequento;

*Vejam o líder que sigo;

*Vejam quantas pessoas eu lidero; 

*Vejam com quem me relaciono;

*Vejam as coisas que possuo;

*Vejam a quantidade dos meus bens;

*Vejam como sou espiritual;

*Vejam quanta influência, poder, autoridade e status eu tenho;

*Vejam quantas pessoas me seguem;

*Ouçam como minhas opiniões são relevantes;

*Vejam como a minha visão de mundo é a melhor;

*Vejam como Deus me abençoa;

E assim por diante.

Uma vida bem vivida, assim como a felicidade, está no nosso Eu que não se vangloria por quaisquer dessas coisas ou outras semelhantes, ou seja, o nosso espírito. E é por esse motivo que todo aquele que desperta para essa verdade descobre dentro de si mesmo(a) a felicidade pura, inabalável e profunda que faz com que vivam sempre bem, em paz, contentes e satisfeitos exatamente como o apóstolo Paulo revela em Filipenses 4.12, ao dizer: "Sei estar abatido e sei também ter abundância, em toda maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade.". Em outras palavras o que Paulo está dizendo com essa maravilhosa declaração de fé é que ele sabe viver bem e de maneira feliz independentemente das circunstâncias sociais nas quais esteja inserido, quando ele estivesse passando por um período onde tudo era favorável ele estaria vivendo bem e feliz, mas quando estivesse passando por um período onde tudo estivesse indo mal e de maneira desfavorável, ainda assim ele viveria bem e feliz.

Mas como isso é possível?

Ao contrário do nosso Eu social, que nada mais é do que o nosso Ego, ou seja, a nossa carne; que nunca está completa, nunca está em paz, nunca se satisfaz; o nosso verdadeiro Eu, que é o nosso espírito, já está pronto, ou seja, já está completo; isso significa, também, que não há nada que seja externo a ele que possa torná-lo mais ou menos feliz, de modo que, qualquer pessoa pode viver bem desde que passe a, intencionalmente, perceber que nós podemos ter, e possuir, todas as coisas que estão disponíveis na sociedade para nós, contanto que não o façamos exageradamente e por imposição do Ego que há em nós, assim como, que tais coisas não se tornem o foco da nossa existência.

Mas qual é a aplicação prática desse entendimento para a nossa vida?

Quando realmente despertamos para o fato de que tudo o que a sociedade nos diz é mentira (em algum nível), e quando percebemos que para vivermos bem e sermos felizes não precisamos entesourar tudo o que nos foi dito que deveríamos buscar, alcançar, conquistar, obter e possuir; uma transformação profunda e libertadora acontece na nossa mente e em toda a maneira como compreendemos e lidamos com o nosso papel na sociedade, assim descobrimos uma lucidez e uma clareza de pensamento, e de fé, que nos torna capazes de sintetizar, em uma única virtude, tudo o que realmente precisamos para viver bem e felizes pelo tempo que nos for permitido caminhar sobre a face da terra.

E qual seria essa virtude?

A sabedoria.

Se há algo que devemos "acumular" (entesourar) em nossa trajetória terrena, tal coisa é a sabedoria, por esse motivo também o texto de Provérbios 10.14a diz: "Os sábios entesouram a sabedoria...", pois é através dessa virtude que conseguiremos medir exatamente, e adequadamente, tudo aquilo que realmente importa na nossa vida, sejam bens, posses, realizações, metas, objetivos, sonhos ou qualquer outra coisa, para que possamos nos dedicar de forma correta e moderada a encontrar tudo o que nos é essencial para uma vida bem-aventurada em todos os sentidos, nos livrando de todo o resto, pois não passam de distrações, grilhões, correntes, algemas, pesos e gaiolas douradas; apenas deleites para o Ego. 

Enquanto as multidões estão envolvidas em uma corrida frenética, alucinada, e sem fim, na busca por sonhar, desejar, ambicionar, obter e acumular todo tipo de coisas e posses (concretas e abstratas) na esperança de que tais coisas os façam felizes e os mostre como viver bem, semelhantemente a cada vez mais pessoas dentro das mais diversas congregações; os verdadeiros cristãos, aqueles que despertaram ou estão despertando da hipnose social, voltam toda a sua atenção para o cultivo diário de todos os aspectos da sabedoria em todos os seus pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações, porque é apenas através da sabedoria que conseguimos nos desvencilhar definitivamente de todas as ilusões, fantasias e sonhos do senso comum e do status quo, que não são nada além de geradores de distorções, confusões, complicações e todo tipo de peso psicológico, financeiro, profissional, assim como, geradores de diversas aflições de espírito (sofrimentos).

Pergunte a um sábio(a) o que ele(a) precisa para viver bem e ser feliz, e a resposta certamente será a de que não precisam de absolutamente nada além do entendimento correto, do pensamento correto, da perspectiva correta, das palavras corretas e das ações corretas; em outras palavras, eles precisam apenas de sabedoria, pois ela mostrará como podem viver no mundo sem fazer parte do mundo e sem deixar que o mundo faça parte deles. A verdade aqui é a seguinte: Os sábios aprendem a viver de tal maneira que sempre vivem bem e felizes independentemente das circunstâncias e das situações em que estão inseridos; de fato, quem sabe viver, vive bem e feliz independentemente do ambiente ao seu redor, pois precisam de muito pouco para serem produtivos e férteis em todas as áreas de sua existência; pois conseguem fazer muito mais com menos; por isso, também, foi escrito o texto de Lucas 12.15, que diz: "A vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.".

Mas os sábios não buscam por bens materiais e posses?

É claro que sim, mas não de jeito animalesco, frenético e inconsciente como a maioria das pessoas têm feito atualmente. Os sábios adquirem apenas aquilo que realmente é útil e adiciona verdadeiro valor a sua vida e à daqueles que estão ao seu redor, sem se deixar distrair, influenciar, seduzir ou aprisionar pelas tendências e influências tortuosas da sociedade que visam apenas transformar as pessoas em servos de todas as coisas que entesouram, muitas delas sem qualquer valor real.