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“...Eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.” Eclesiastes 1.14

 


“...Eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.” Eclesiastes 1.14

O dicionário define vaidade como sendo algo vão, vazio de significado real, firmado apenas sobre as aparências; e embora essa seja uma definição bem consistente para fins de compreensão superficial, durante algum tempo eu me perguntei o seguinte: Será que conseguimos desenvolver uma definição que seja, ao mesmo tempo, mais espiritual e mais prática para a palavra vaidade?

A resposta óbvia é sim. E é essa: Vaidades são todos os tipo de ilusões sociais, internas (pessoais, sentimentais, emocionais), e externas (profissionais, políticas, religiosas, etc...); e tais ilusões podem operar livremente nas três dimensões da existência humana, a saber: Nas dimensões física, mental e espiritual. Além disso, essas vaidades (ilusões) podem ser criadas por nós mesmos ou por outras pessoas, pela sociedade, pelo espírito do mundo, e assumidas por nós. Creio que essa é uma definição mais robusta, clara e suficientemente completa para nos permitir ir um pouco mais fundo nesse tema sem que as coisas fiquem complexas em demasia.

Mas antes de prosseguir deixe-me dizer algo extremamente importante. Quando falo que algumas das ilusões sociais que agem em nossa vida são criadas por nós mesmos, na verdade estou dizendo que tais ilusões são criadas por uma parte de nós que geralmente achamos que somos nós, uma parte que, por estarmos tão imersos na maneira de pensar condicionada e convencional, assim como nos modelos e padrões naturais da sociedade, não conseguimos nos dar conta de que essa parte de nós, por si só, já é uma ilusão, de fato, ela é a mãe de todas as ilusões. O Ego.

O Ego humano é o maior gerador de vaidades de todos os "tipos", "tamanhos" e "sabores"; mas não apenas isso, ele é o apego e a identificação que as pessoas têm com essas vaidades; ou seja, o Ego produz as vaidades e depois induz os indivíduos a tornarem tais vaidades parte da identidade deles apegando-se de forma tão ferrenha a elas que tais indivíduos passam a acreditar, equivocadamente, que suas vaidades e eles são um só ser. Encontre uma pessoa vaidosa e você terá encontrado alguém completamente dominado(a) pelo próprio Ego.

Agora. Partindo do ponto em que já sabemos que as vaidades em nós e em nossa vida são ilusões, algumas pessoas podem se perguntar o seguinte: O que são essas ilusões?

Ilusões são distorções e deformações dos nossos sentidos, das nossas crenças, dos nossos pensamentos, da nossa fé, da nossa intuição, dos nossos desejos, da nossa consciência e da nossa percepção da realidade; de fato, quase tudo o que a maioria das pessoas, sente, anseia, fala, sonha, e faz, é ilusão (vaidade). E foi por observar atentamente o comportamento das pessoas,  umas com as outras, e com elas mesmas, que o sábio rei Salomão concluiu o que foi registrado em Eclesiastes 1.14: "Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade (ilusão) e aflição de espírito".

Com a decadência da espécie humana através do Pecado Original, parte da mente dos indivíduos foi condicionada pelo espírito do mundo e se transformou em uma poderosa máquina de produzir todo tipo de ilusões pessoais (vaidades), de modo que o ser humano tornou-se numa incrível pilha de vaidades (ilusões); e, desde então, por consequência, a sociedade tem sido o acúmulo e a interação massiva de todas essas vaidades.

E por que viver de acordo com as ilusões (vaidades) é algo tão ruim?

Porque o resultado das nossas vaidades são sempre as aflições do nosso espírito, por isso Salomão disse: "...e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito". Ou seja, uma coisa leva à outra; quanto mais vaidades (ilusões) criarmos, cultivarmos ou assumimos na nossa vida, mais sofrimento (aflição de espírito) será gerado dentro de nós em todas as dimensões da nossa existência; e o pior é que tal sofrimento vai alimentar as vaidades que já possuímos, fortalecendo-as, em um círculo vicioso; e, também vai criar novas; em outras palavras, as vaidades geram engano, o engano gera sofrimento e o sofrimento gera mais vaidades; exatamente por esse motivo o seguinte ensinamento foi escrito em Jó 15.31, que diz: "Não confie, pois, na vaidade, enganando-se a si mesmo, porque a vaidade será a sua recompensa". Quando nos apegamos às nossas vaidades, quando nos identificamos com elas, ou seja, quando as tornamos parte da nossa identidade como indivíduo; quer tenham sido criadas por nós (pelo nosso Ego) ou criadas por outros e adotadas por nós; elas crescerão, e o estrago que elas vão fazendo durante esse processo na nossa mente e na nossa vida crescerá também.

Não é preciso muito esforço para ver que as vaidades (ilusões) dominam a sociedade atual, inclusive dentro das mais diversas congregações; nunca houve tantos indivíduos dominados pelo narcisismo (apaixonados pela própria imagem mental ou social distorcida) e pelo hedonismo (numa busca constante e alucinada por todo tipo de prazeres sociais, pessoais e espirituais) quanto há nos dias atuais. Multidões que não perceberam, ou perceberam, mas já não se importaram, com o fato de estarem presos a tais comportamentos, alimentando-os, fortalecendo-os e oferecendo a si mesmos, todos os dias, em sacrifício vivo para tais abominações.

E como saber quem está vivendo assim? 

É simples, pois eles pensam ou falam mais ou menos como descrito abaixo: 

*Eu quero ser mais bonita(o) do que sou agora;

*Eu quero ser mais desejável do que sou agora;

*Eu quero ter mais dinheiro do que tenho agora;

*Eu quero ter mais bens materiais do que tenho agora;

*Eu quero ter mais poder, influência, status, fama, prestígio do que tenho agora;

*Eu quero ser mais seguido(a), admirado(a), venerado(a);

*Eu quero viver a vida dos meus sonhos; quero realizar todos os meus sonhos;

*Eu quero alcançar as conquistas que a sociedade diz que são as melhores;

*Eu quero impressionar meus vizinhos, amigos, colegas, parentes e irmãos de congregação, com meus dons e talentos, com as minhas realizações e demonstrações de poder aquisitivo.

*Eu quero que as pessoas vejam que sou sábio(a);

*Eu quero provar que estão errados;

*Eu quero ser mais espiritual do que os outros;

*Eu quero que todas as minhas opiniões sejam aceitas;

*Eu quero me vingar;

*Quero vencer sempre;

*Eu quero; eu preciso; eu mereço... O "eu" é a única linguagem do Ego.

Há muitas outras frases e pensamentos semelhantes a esses, mas obviamente não há como colocar todos em um simples texto como o que você está lendo agora. Aliás, se você achou tudo isso um tanto quanto egocêntrico, e até infantil, não é por acaso, pois as vaidades (ilusões) que as pessoas possuem estão sempre firmemente enraizadas na imaturidade do Ego delas; e mantê-las sempre nesse nível de pensamento superficial é exatamente a intenção do espírito do mundo, pois assim ele consegue ludibriá-las como se fossem crianças e conduzi-las com extrema facilidade "de um lado para outro", para que caiam nas inúmeras armadilhas físicas, mentais e espirituais que estão espalhadas pela sociedade na qual vivemos.

No Salmo 119.37a  está escrito: "Desvia os meus olhos de contemplarem a vaidade...". Aqui, a essência da oração que o salmista escreveu é: Me faça enxergar além das ilusões. Todo cristão(ã) legítimo entende que há uma enorme necessidade, principalmente nos dias atuais, de se desvencilhar de todas as suas vaidades (ilusões), tanto as que estão dentro quanto as que estão fora de nós, e a medida que caminham na direção de perceber as próprias vaidades e, gradativamente, se desidentificar delas, passam a notar também que a quantidade de sofrimento pesando sobre a mente, coração e espírito deles reduz drasticamente; uma vez que a maioria absoluta das aflições de espírito (sofrimentos) que as pessoas sentem é autoimposta, ou seja, é produzida por elas mesmas, por causa de suas ilusões (vaidades). 

Ao nos desapegarmos de uma vaidade várias aflições se desfazem, quase como "mágica", nosso Ego se enfraquece, a consciência que temos de nós mesmos, de Deus e de tudo o que nos rodeia se torna mais clara, lúcida, ampla, sólida; e nossa vida fica muito mais leve. De fato, cristãos legítimos sabem que quando nos entregamos a uma vaidade, ela se integra em nós, logo, nós nos identificamos com ela, passamos, equivocadamente, a considerá-la parte de quem somos e sofremos quase que ininterruptamente por causa da quantidade absurda e violenta de desejos, sonhos, expectativas e ambições que ela dispara sobre nossa mente. Cada uma das muitas vaidades (ilusões) que as pessoas têm dentro de si, e perseguem na vida, está sempre produzindo todo tipo de cobiças, conflitos internos e externos, comparações com outras pessoas, invejas, presunções e muitas outras coisas que perturbam a tranquilidade da alma delas com tanta intensidade que formam uma espécie de identidade alternativa na qual tais pessoas passam a acreditar cegamente e viver como se estivessem interpretando um personagem delas mesmas. Além disso, essa distorção no senso de identidade própria que as vaidades provocam acabam impactando negativamente na maneira como os indivíduos compreendem toda a realidade ao redor deles. É como se as vaidades funcionassem como uma espécie de droga mental alucinógena que provoca tantas alterações na mentalidade das pessoas que elas, sem se dar conta, começam a acreditar que estão vivendo em uma realidade alternativa, como se a vida estivesse de ponta-cabeça.

Pessoas bonitas passam a acreditar que são feias; pessoas inteligentes passam a acreditar que são burras; pessoas carnais passam a acreditar que são espirituais; indivíduos talentosos passam a crer que não têm talento algum; pessoas com muito dinheiro passam a crer que necessitam de muito mais dinheiro; pessoas com sucesso passam a acreditar que são fracassados; pessoas com uma vida boa passam a acreditar que a vida deles é ruim; e etc... 

Em Gálatas 5.26 está escrito: "Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.".  A palavra vanglória significa "glória vã" ou "glória vazia", em outras palavras, trata-se de uma "glória" vaidosa, pois como vimos no início desse texto a palavra vaidade significa todas as coisas que são vazias em si mesmas; logo, a essência do que Paulo escreveu nesse versículo aos Gálatas também pode ser entendida da seguinte maneira: "Não devemos perseguir as glórias da nossas vaidades, perturbando-nos uns aos outros...". De fato, esse entendimento deve ser colocado em prática em todas as áreas da nossa existência, pois a única maneira de conseguirmos edificar uma vida verdadeiramente equilibrada e saudável, física, mental e espiritualmente é se formos capazes de nos desapegarmos de nossas vaidades. 

Todas as vaidades geram ansiedade, medo, amargura, insensatez, inquietação, insatisfação, confusão, frustração, infantilidade, fadiga e todo tipo de sofrimentos; já o desapego às vaidades produz leveza, contentamento, alegria, gratidão, simplicidade, liberdade, equilíbrio, bom senso, maturidade, serenidade, inspiração e toda sorte de benefícios não só para nós, mas também para todos os que estiverem ao nosso redor.


Comentários

  1. Muito bom texto. Jesus disse: Se alguém quiser vir após mim negue a si mesmo. É renuncia ao eu e segui a vontade do Pai assim como o exemplo de Cristo.

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    Respostas
    1. Olá!
      É exatamente isso.
      Obrigado por deixar seu comentário aqui.
      Que a sua mente e a sua vida sejam fortalecidas pela maravilhosa Graça e pelo poderoso Amor de Deus que há em Cristo Jesus.
      Grande abraço.
      Seja feliz.😊💖

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