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“E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci...” Mateus 7.23

 


“E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci...” Mateus 7.23

O versículo destacado no título deste texto é um dos quais eu sempre tive mais curiosidade de compreender, pois nele Jesus afirma categoricamente que vai negar e impedir que um grupo de pessoas, crentes, entrem no Reino dos Céus, mesmo eles tendo operado diversos sinais e maravilhas como profecias, expulsão de demônios, cura de enfermos, ressurreição de mortos e muitas outras coisas extraordinárias em nome do próprio Cristo; como eles mesmos argumentarão, segundo o que foi escrito em Mateus 7.22, que diz: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?”.

Em marcos 16.17-18 o próprio Jesus diz o seguinte: "E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão.". Então; porque Ele vai negar conhecer muitas pessoas que fizeram exatamente os sinais e maravilhas que Ele mesmo disse que fariam como prova da crença no Santo e Poderoso Nome de Jesus?

Essa atitude do Mestre parece ser algo totalmente contraditório, uma vez que o próprio Jesus também disse em João 6.37b: "...O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.", mas a verdade é que não há nenhuma contradição nem nas palavras, nem tampouco na atitude de Cristo, muito pelo contrário. O que acontece é que há um fenômeno pernicioso que está se multiplicando entre muitas pessoas que dizem ser servas de Jesus atualmente, e é justamente esse fenômeno que vai fazer com que tais indivíduos, mesmo tendo passado décadas da vida dentro de uma congregação sejam rejeitados por Cristo e impedidos de ter acesso à recompensa definitiva, o Reino dos Céus.

E que fenômeno é esse?

O vício que muitos indivíduos e congregações desenvolveram em viver apenas baseados na operação de sinais, milagres e maravilhas; ou seja, para tais pessoas, membros e líderes, a experiência do cristianismo se resume apenas, e tão somente, às ações do sobrenatural como a cura dos enfermos, a expulsão de demônios, as línguas, as profecias, as visões, os sonhos, os arrebatamentos, conversas com anjos e etc...

Mas o cristianismo não é isso mesmo?

Não. Ele é muito mais do que apenas isso. Porém, como toda a atenção dessas pessoas está presa tão somente nas manifestações espirituais do sobrenatural, eles tornam-se completamente cegos e indiferentes para a parte do cristianismo que mais importa. A parte que está relacionada com o amor.

Não sei se você tem conhecimento, mas o cristianismo possui três pilares, ou, se preferir chamar de outra maneira, três características, vitais, que o definem, são elas: A fé, a esperança, e o Amor. Como o apóstolo Paulo registrou em 1 Coríntios 13.13a, que diz: "Agora, pois, permanecem a , a esperança e o amor, estas três..."; porém, tanto a esperança quanto a fé são, de certa maneira, subordinadas ao amor, pois o amor é o Dom Supremo; por esse motivo foi que Jesus, quando perguntado, por um fariseu, sobre qual é o maior de todos os mandamentos da lei, respondeu da seguinte maneira: "...Amarás o teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.". Basicamente, o que Jesus estava tentando fazer aqueles fariseus perceberem era o seguinte: O amor é o centro de tudo.

Então, uma vez que alguém concentre toda a sua atenção apenas nas coisas sobrenaturais da fé, como os sinais, milagres e maravilhas extraordinárias, passará automaticamente, quer tenha consciência disso ou não, a negligenciar por completo as questões tanto da esperança quanto as do amor; por esse motivo é que nos dias atuais, vemos com alguma facilidade tantas pessoas, membros e líderes de congregações, poderosamente usados nas mais diversas manifestações espirituais da fé, como curas, profecias, línguas, previsões, sonhos, expulsão de demônios e tantas outras coisas extraordinárias, mas que ao mesmo tempo, não praticam nem manifestam quase nenhuma compaixão, empatia, compreensão, tolerância, paciência, paz, misericórdia, temperança, equidade e muitas outras virtudes que derivam diretamente do amor. Pelo contrário, tais pessoas mesmo tendo aprendido como colocar a fé em ação para gerar grandes efeitos sobrenaturais (que muitos fazem questão de ostentar), permanecem dominados pelo orgulho, pelo egoísmo, pela arrogância, pela vaidade, pelo fanatismo, pelo ressentimento, pelo narcisismo, pelo chauvinismo, pela megalomania, pela raiva, ira, ódio, inveja, ciúmes e tantas outras iniquidades semelhantes a estas; eis o motivo que levará Jesus a dizer categoricamente, a estas pessoas, o que está registrado em Mateus 7.23b: "...Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.".

Se realmente queremos viver como cristãos genuínos, jamais podemos nos esquecer de que a fé está subordinada ao amor, portanto, para nós, qualquer efeito sobrenatural da fé, se estiver desconectado do amor (a Deus, ao próximo e a nós mesmos) não terá proveito algum. Em 1 Coríntios 13.1-2, o apóstolo Paulo resume exatamente essa questão ao dizer: "Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.".

Todo cristão genuíno, como Paulo, sabe que não adianta nada, para nós, curarmos os enfermos e negligenciarmos a compaixão para com o próximo; da mesma forma, de nada nos aproveitará sermos capazes de expulsar os demônios, mas sermos incapazes de demonstrar tolerância verdadeira com aqueles que pensam diferente de nós; semelhantemente, não há proveito algum em profetizarmos todo o tempo, mas não praticarmos a temperança; como também não há benefício algum em falarmos e interpretarmos as línguas sobrenaturais, mas não termos empatia para com outras pessoas. Não adiantará nada usarmos a fé para realizar grandes feitos sobrenaturais, mas considerarmos que todos os que não pertencem a nossa congregação, ou não têm a mesma visão da realidade que nós, são nossos inimigos. Se o amor (a Deus, ao próximo e a nós mesmos) não for a força vital que nos move em absolutamente todas as questões, nossa fé, embora ainda seja capaz de produzir feitos extraordinários, com o passar do tempo se tornará corrupta; ainda que não pareça.

Embora a fé seja um dom celestial, o primeiro que desperta em nós quando somos alcançados pela Santa Palavra de Deus, e embora ela seja o firme fundamento e a convicção interior que nos sustentará em todos os assuntos durante a extensão da nossa vida; embora ela nos empodere e capacite para compreender as coisas que são do alto, a dimensão espiritual, as coisas celestiais, e a usar o poder e a autoridade de Cristo. A principal função da fé é nos fazer despertar para o amor; tanto o amor de Deus para conosco, revelado na pessoa de Jesus, quanto o nosso amor para com Ele, e, por consequência, também o nosso amor para com as outras pessoas que compartilham a casa, a rua, a congregação, a cidade, o país, a internet, e o mundo conosco; mesmo que eles ainda estejam adormecidos no sono hipnótico da sociedade que governa as multidões e ainda não conheçam a maravilhosa luz da vida que há em Cristo.

E por que a principal função da fé é nos despertar para o amor?

Porque o amor é o próprio Deus, como está escrito em 1 João 4.8 que diz: "Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor." (versão NVI); logo, quando a fé nos faz despertar para o amor, ela está, na verdade, nos fazendo despertar para Deus em nós, por isso também foi dito em Hebreus 11.6 (NVI) que: "Sem fé é impossível agradar a Deus..."; porque sem a fé permanecemos desligados do amor; mas é somente através do amor que seremos unificados com Deus e transformados; é somente o amor que nos completa por inteiro e nos torna realmente capazes de refletir a maravilhosa luz divina de Cristo sobre a vida de todos os que estiverem ao nosso redor, de modo que não serviremos de escândalo para ninguém, como foi dito em 1 João 2.10: "Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo.".

Não me entenda mal, pois não estou diminuindo a importância da fé na vida cristã, porque a fé sempre foi, é, e sempre será extremamente importante para todo cristão genuíno. O que estou tentando fazer aqui é apenas chamar a sua atenção para o fato que está passando despercebido por um número cada vez maior de pessoas, de que a fé, para permanecer pura, brilhante e ter a sua ação perfeita, necessita estar sempre conectada ao amor.

A fé nos faz transportar a montanha; o amor nos faz caminhar a segunda milha;

A fé nos permite curar os enfermos; o amor nos permite curar a nós mesmos (e por consequência, o mundo);

A fé nos capacita para profetizar; o amor nos capacita a ter compaixão;

A fé nos dá condição de expulsar os demônios, o amor nos torna inabaláveis aos ataques do espírito do mundo;

A fé nos faz lutar e vencer as batalhas, o amor nos faz oferecer a outra face;

A fé nos faz caminhar sobre as águas, o amor nos faz estender a mão para aqueles que estão se afogando;

A fé nos sustenta nos momentos de maior dificuldade; o amor sustenta a nossa fé e nos faz sustentar outros em meio as aflições da vida.

A fé acende a chama do cristianismo em nós, o amor mantém a chama acesa.

A fé ergue aqueles que estão caídos; o amor converte aqueles que estão perdidos;

Quando jesus disse que rejeitará muitas pessoas que passaram boa parte da vida operando sinais e maravilhas extraordinárias em nome Dele, e os impedirá de entrar no Reino dos Céus, é porque tais indivíduos, a despeito de realmente terem curado enfermos, expulsado demônios, profetizado, e produzido diversos milagres; nunca foram realmente cristãos, pois ignoraram e negligenciaram o dom supremo, o amor, ou seja, eles ficam tão inebriados com a sensação e a influência que conseguem através dos milagres que são operados por suas mãos que se perdem em uma quantidade cada vez maior das mais diversas iniquidades como o orgulho, a vaidade, a arrogância, o egoísmo, a megalomania, a inveja, a intolerância, a indiferença e muitas outras, de modo que acabam por negligenciar o próprio Deus. 

E como foi escrito em Mateus 24.12: "...Por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.". Assim sendo, como já vimos nas palavras sábias de Paulo, sem o amor nós não somos nada além de criaturas barulhentas (sinos que tinem), fazendo ruído aleatoriamente, "Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.".

Se focarmos nossa vida apenas nas questões espirituais da fé (milagres, sinais e maravilhas), corremos um grande, e sério, risco de ficar viciados (porque a natureza corrupta da humanidade é capaz de se viciar em absolutamente qualquer coisa, até mesmo nas coisas sobrenaturais e espirituais), e se isso acontecer, perderemos o amor de vista, permitindo que ele se esfrie em nós, sem que nem percebamos, mergulhado em um mar de iniquidades; como já aconteceu com uma geração inteira de pessoas, tal qual foi relatado em Mateus 12.38-39a: "Então, alguns dos escribas e dos fariseus tomaram a palavra, dizendo: Mestre, quiséramos ver da tua parte um sinal. Mas ele lhes respondeu e disse: Uma geração má e adultera pede um sinal...", uma geração má e adultera é justamente uma geração que se perdeu em meio à iniquidade permitindo que o amor ficasse frio. Mas se focarmos nossa atenção no amor, ele produzirá e sustentará nossa fé de maneira saudável e será uma fonte inesgotável de esperança para nossa vida e para a vida das pessoas que nos rodeiam e que tiverem contato com o amor do Pai através de nós.

  

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