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"Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso pai que está nos céus." Mateus 5.48

 


"Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso pai que está nos céus." Mateus 5.48

Será que nós podemos realmente ser perfeitos ou a perfeição é só um conceito abstrato que foge da capacidade humana?

Se olharmos esse verso bíblico além da superfície logo notaremos que em um nível mais essencial de discernimento ele está apontando para o fato de que todos nós podemos, e devemos, ser perfeitos tal como Deus é.

Mas será que isso é realmente possível?

Claro que sim. Porque a perfeição abordada nesse maravilhoso verso não está se referindo àquilo que a sociedade convencionou chamar de perfeição, ou seja, esse versículo não está tratando da perfeição como ausência de falhas e fraquezas, pois esse tipo de perfeição só é possível ao próprio Deus; porém, existe uma outra dimensão da perfeição, uma dimensão que também é parte do Criador, mas que todos nós, humanos, também podemos desenvolver. Essa perfeição, nada mais é do que a capacidade que todo ser humano tem para ser completo, pleno, em si mesmo. Ou seja, quando Mateus 5.48 diz que devemos ser perfeitos como o nosso Pai, a mensagem que o texto está realmente nos passando é a de que devemos ser completos tal como Deus também o É. Em outras palavras, a essência desse versículo trata da nossa plenitude como indivíduos; e é também por isso que o texto de Provérbios 4.18 afirma que: “...A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.”. De fato, a essência desse texto é a de que a vida de todo cristão genuíno (o justo) é como o amanhecer que vai iluminando a si mesmo até se tornar totalmente pleno, completo. 

E o que é essa plenitude?

Para nós, humanos, é a harmonia entre todas as partes que formam o nosso ser; ou seja, é o equilíbrio entre espírito, mente e corpo, sem a intervenção nem a influência do Ego (carne) que há em nós, por isso a Escritura nos ensina que devemos eliminar o Ego, por meio de um processo que a Palavra de Deus chama de crucificação da carne, como foi registrado em Gálatas 5.24, que diz: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.". É através desse processo que todo cristão(ã) verdadeiro encontra o equilíbrio interior, e é esse equilíbrio que elimina o vazio existencial que o espírito do mundo inseriu no íntimo das pessoas e as obriga, dissimuladamente, a aumentar tal vazio com todo tipo de pensamentos e comportamentos socialmente insanos e inconscientes. Na verdade, tentar completar a si mesmos através da obtenção massiva e do acúmulo de todos, ou da maior quantidade possível, dos símbolos e tesouros sociais, é justamente a definição espiritual da insanidade social; não por acaso o texto de Lucas 12.15 (NVI) diz que: "...A vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens.". Qualquer um que pense da maneira distorcida como a sociedade constantemente tenta nos induzir a fazer, sofrerá com as várias síndromes e efeitos dessa insanidade social cuja característica mais marcante é essa constante busca alucinada pela felicidade através de coisas e excessos, e, cujo sintoma mais visível, paradoxalmente, é um constante senso de infelicidade que os impede cada vez mais de serem completos (plenos) em si mesmos.

De fato, a maioria das pessoas na sociedade, e mesmo dentro das mais diversas congregações, não são completas em si mesmas, muito pelo contrário, estão sempre em busca de algo na vã esperança de que tal coisa, ou pessoa, os complete; as multidões estão sempre tentando usar as coisas externas (dinheiro, fama, influência, status, poder, sucesso, autoridade, metas, vícios, objetos, posses, relacionamentos e muito mais) na vã tentativa de finalmente se sentirem plenos, constantemente seguindo às direções desencontradas que as mais variadas vozes sociais indicam, e se sacrificando desnecessariamente em busca do que o status quo e o senso comum dizem que devem adquirir e acumular.

E por que isso acontece?

A humanidade, em Adão e Eva, foi criada em um estado de perfeição absoluta, (plenitude) ou seja, havia equilíbrio no criatura humana; eles eram completos em si mesmos, plenos em todos os sentidos, fisicamente, mentalmente e espiritualmente, não havia um vazio existencial dentro do primeiro casal; mas com o contato que tiveram com o espírito do mundo, e a consumação do pecado que cometeram, eles, e por consequência toda a humanidade, perderam a conexão com esse estado interior de equilíbrio e plenitude, "perfeição", que Deus os havia dado no ato da criação. É claro que parte dessa perda do estado de plenitude se deu por causa da ruptura do elo entre o homem e Deus gerada pelo pecado original, e uma das evidências mais notáveis disso, principalmente nos dias atuais, é essa constante sensação que as pessoas têm de que sempre há algo faltando dentro delas e também em suas vidas sociais. De fato, com a perda do estado de perfeição original, a humanidade passou a sofrer de uma severa “sede social” que tem se agravado cada vez mais com o passar dos tempos, e que em nossos dias está em seu grau mais intenso e danoso.

Na verdade, para a maioria das pessoas esse senso de incompletude é algo totalmente natural e inconsciente, mas influencia todas as decisões que tomam na vida, desde as menores e menos importantes até àquelas que são vitais e definirão os rumos da existência deles. De fato, é por causa dessa sensação subliminar e inconsciente de incompletude que as pessoas vivem desesperadamente se sacrificando para adquirir tudo o que podem, assim como, para satisfazer todas as suas vontades e realizar os "seus" mais diversos (e alucinados) sonhos, segundo os padrões sociais; acreditando que ao fazer isso, de alguma maneira, finalmente se sentirão completos, "perfeitos"; mas como todas as promessas da sociedade também são vazias de essência, tais pessoas nunca conseguem sentir-se completas quando estão sendo guiadas pelas influências, impulsos e estímulos sociais do senso comum e do status quo, por mais que alcancem e conquistem tudo, ou grande parte, do que a sociedade tem para oferecer.

Se prestarmos atenção perceberemos que todas as vozes e forças sociais estão, desde a nossa infância, nos moldando e condicionando segundo os seus padrões distorcidos, que supostamente nos levariam, em algum momento futuro, sempre no futuro, a uma vida completa, perfeita, mas isso nunca acontece, e há pessoas que desperdiçam toda a sua existência nesse grande carrossel de ilusões sociais, sem perceber que estão em um caminho que não leva, e jamais levará, para a plenitude. Foi justamente para nos poupar de seguir por esse caminho de engano que o texto de Romanos 12.2, nos alerta, dizendo: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformais-vos pela renovação do vosso entendimento.". Se nos conformarmos com esse mundo, jamais conseguiremos ser perfeitos (plenos/completos) como o nosso Pai celestial; assim sendo, há uma pergunta importante que devemos fazer agora, e é a seguinte: 

Qual é, exatamente, esse mundo com o qual não devemos nos conformar?

O mundo ao qual Romanos 12.2 se refere é justamente a nossa sociedade atual; essa sociedade na qual quase todos os indivíduos estão “sedentos”, sempre grandemente inconformados consigo mesmos e com a própria vida, não importa o quão boa e abastada ela seja. Uma sociedade na qual as multidões são doutrinadas para não ver as mais diversas bênçãos que estão dentro, e ao redor, deles, por maiores que elas sejam; mas estão sempre extremamente preparados para encontrar qualquer mínima coisa que possam transformar em um problema gigantesco, seja fisicamente, mentalmente, e até espiritualmente. A sociedade atual esconde a plenitude de nós sempre nos induzindo a pensar que há algo faltando no nosso interior, na nossa existência e até mesmo no nosso relacionamento com Deus; e nos fazendo crer que é errado estar conformado com o fluir da vida tal como ela ocorre diante de nós; de fato, todas as vozes da sociedade estão sempre julgando, repreendendo e condenando qualquer um que ouse ficar conformado consigo mesmo e com a própria vida, esses são pressionados das mais diversas maneiras, e rotulados como preguiçosos, vagabundos, fracassados, e muito mais, com tanta violência que muitas pessoas se sentem obrigadas a se incorporar na inconformidade social, ou seja, nessa sucessão de corridas vertiginosas, frenéticas, ilusórias, consumistas, alucinadas e alienadas, em busca por todos os símbolos e tesouros sociais, concretos e abstratos, que supostamente levam os indivíduos à plenitude, a uma "vida perfeita". Muitos costumam pensar ou até mesmo dizer: Quando isso ou aquilo acontecer minha vida será perfeita. O problema é que todo esse inconformismo que a sociedade diz que conduz a perfeição (plenitude), na verdade só serve para levar qualquer um que se entregue a ele à ruína (autodestruição) por meio de muito sofrimento interno auto imposto, que a Escritura Sagrada chama de aflições de espírito. É também por esse motivo que foi registrado o texto de Provérbios 14.12, que diz: "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.".

O "caminho" do inconformismo social constante, tão alardeado, aplaudido e venerado pelos expoentes da sociedade, e até por líderes de muitas congregações, é certamente um caminho que nos conduz para as mais diversas "trilhas" como a insatisfação, o descontentamento, a aceleração, a ansiedade, e até mesmo à depressão e ao vazio existencial; que, obviamente, nos afastam cada vez mais da plenitude, ou seja, nos impedem de encontrar a perfeição que já está dentro de nós mesmos; uma vez que ficamos presos em pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações, tóxicas e repetitivas, que são alimentadas pela multidão de vozes sociais, nas mais diversas mídias, que estão sempre nos dizendo coisas como:

* A perfeição está em algum lugar (ou alguma coisa) fora de você;

* O sucesso pertence apenas aos inconformados;

* Somente os inconformados conseguem mudar o mundo;

* Apenas os inconformados são dignos da perfeição;

* Os vencedores nunca perdem a sede de vitória;

* Não se conforme com a sua posição na sociedade;

* Não se conforme com o seu emprego atual;

* Não se conforme com o cargo que você ocupa;

* Não se conforme com pouco;

* Não se conforme com o carro que você dirige;

* Não se conforme com a casa ou com o lugar em que você mora;

* Não se conforme com a quantidade de dinheiro que você tem, mesmo que seja muito;

* Não se conforme em ser pobre;

* Não se conforme com os objetivos, metas, sonhos e tudo o mais que você já alcançou;

* Não se conforme em ser mais um;

* Não se conforme com o seu corpo, com a sua aparência;

* Não se conforme com a sua vida.

Essas vozes sociais, nunca param de sussurrar, falar, e até mesmo gritar, tais coisas nos ouvidos e na mente das multidões, e muitas vezes usam até mesmo o texto de Romanos 12.2, de uma maneira distorcida, para sustentar o crescente inconformismo social no interior das pessoas que, sem que percebam, os está corroendo por dentro, assim como os distanciando cada vez mais da verdadeira plenitude, ou seja, esse inconformismo social exacerbado os está impedindo de ter contato direto com a essência plena e viva que há neles, que é o seu verdadeiro eu, o espírito deles, que já é perfeito, uma vez que tenham realmente se convertido a Cristo. E isso simplesmente porque qualquer um que realmente foi convertido, uniu a própria essência, o próprio espírito, com a Essência do Criador, o Espírito do próprio Deus, e se tornou "um" com Ele, como o texto de 1 Coríntios 6.17 NVI deixa claro ao dizer: "Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.". E como o Espírito de Deus é perfeito em todos os sentidos, nós recebemos parte dessa perfeição no nosso espírito, não no sentido da ausência de falhas e fraquezas, pois elas compõem a nossa natureza humana, diferentemente da natureza divina do Criador, mas sim no sentido de estarmos finalmente pleno, completos; e essa plenitude, "perfeição" passa a fluir a partir Dele, que é a fonte, através do nosso verdadeiro eu (nosso espírito) de uma maneira tal que perdemos a necessidade social de buscar e usar, loucamente, os símbolos e tesouros da coletividade para tentar encontrar plenitude através deles. E essa é uma milagrosa libertação, é o fim da “sede social” tal como o próprio Cristo expôs no texto de João 4.14a, que diz: “Mas aquele que beber da água que eu der nunca mais terá sede…”.

Muitos líderes e gurus da atualidade argumentam dizendo que sem esse inconformismo social, sem essa sede, ninguém seria capaz de alterar as circunstâncias negativas da própria vida para melhor ou impactar o mundo positivamente, mas isso não é verdade, pois o que nos dá a clareza necessária para perceber que há algo que pode ser alterado para melhor em nós (nos nossos pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações), assim como nas circunstâncias e situações sociais nas quais estamos inseridos, ou mesmo no nosso estilo de vida não é o inconformismo, mas sim o discernimento. De fato, toda a mudança que parte de uma perspectiva de discernimento interno, e consequentemente, externo; sempre acontece de maneira muito mais plena (perfeita), ou seja, muito mais adequada, estável, pacífica, consciente, sólida, suave e saudável do que qualquer mudança gerada pelo inconformismo, pois essas são turbulentas, ambiciosas, ferozes, sacrificantes, conflitantes, e instáveis. Somente através de discernimento encontramos a lucidez necessária para não criarmos resistências e bloqueios internos com relação aos desdobramentos da vida, (pois muitos desses desdobramentos, mesmo aqueles que, em princípio, vemos como grandes desafios ou injustiças, são bênção que sem esse discernimento não temos condições de reconhecer); enquanto ao mesmo tempo navegamos pela existência com a graça e a fluidez que nos permita alterar tudo o que for possível em nós e ao nosso redor sem gerar atrito e ruído interno. Essa é a maneira como os cristãos genuínos, aqueles que encontraram plenitude, "perfeição", no interior do próprio espírito, lidam com todas as demandas da vida; por esse motivo também foi escrito o texto de 1 coríntios 2.15, que diz: "Mas aquele que é espiritual discerne bem tudo...".

Quando o texto de Romanos 12.2 diz: "...Transformai-vos pela renovação do vosso entendimento.", ele também está nos apontando a direção correta; está nos dizendo que não devemos pensar como a sociedade nos ensinou desde a infância. Não devemos tentar procurar pela perfeição através do inconformismo social que dita a maneira deformada como as multidões pensam e se comportam, mas sim, devemos compreender que podemos encontrar essa perfeição, aqui e agora, dentro do nosso próprio espírito, porque esse é o "lugar" onde a verdadeira perfeição, no sentido de plenitude, habita.

A nossa maior jornada não é para fora, para além das fronteiras do nosso ser, sempre na direção do horizonte social em qualquer área da nossa vida; mas sim para dentro de nós mesmos, para além de todas as nossas ilusões interiores, sempre na direção da luz do nosso espírito.

Se você quer encontrar, não mais buscar, mas realmente encontrar, a plenitude (perfeição) que está no seu espírito, livre-se desse constante inconformismo social que tem controlado a mente da humanidade desde a queda de Adão e Eva. Isso mudará drasticamente a sua perspectiva sobre tudo o que diz respeito a você mesmo(a), o seu papel na sociedade, o seu relacionamento com Deus, e a sua vida. Assim você passará a pensar, sentir, falar e agir sempre a partir desse "lugar" interior, espiritual, de perfeição. Exatamente como o nosso Pai celestial.

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