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"Não são do mundo, como eu do mundo não sou.". João 17.16

 


"Não são do mundo, como eu do mundo não sou.". João 17.16

O que é esse mundo ao qual Jesus está se referindo? Qual é a ligação entre ele e as pessoas que estão nele?

Quando Cristo fala sobre o mundo, muitos pensam que o mestre esteja se referindo ao planeta em que vivemos, mas não é sobre isso que Jesus está falando. Na verdade, ao citar o "mundo", Cristo está falando da sociedade na qual estamos inseridos desde o momento do nosso nascimento; esse "organismo" deformado repleto de enganos (ilusões) que governam a mente e o estilo de vida das multidões, ferindo e sufocando a existência e a fé das pessoas com todo tipo de "espinhos" internos e externos; por esse motivo, também, foi escrito o conhecido texto de Mateus 13.22, que diz: "...Os que recebem a semente entre espinhos, os quais ouvem a palavra; mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera.".

Ou seja, a maneira como a sociedade opera é capaz, não só de ferir e causar todo tipo de sofrimento nas pessoas que ainda estão inconscientes, imersas no sono hipnótico social que eles chamam de "minha vida", mas também é capaz, até mesmo, de atingir indivíduos que já começaram a despertar através da Escritura Sagrada, mas ainda não desenvolveram consciência e lucidez suficiente para enxergar além do véu de ilusões e fantasias criadas e sustentadas pelo senso comum e pelo status quo que controlam isso que fomos ensinados a chamar de sociedade.

Quando Jesus afirma que os cristãos genuínos não são do mundo, Ele está deixando claro que a forma como a sociedade pensa, sente, fala e age é muito diferente da maneira como os verdadeiros filhos de Deus fazem tais coisas. De fato, todo o comportamento psicossocial das multidões que vagam inconscientes na coletividade está apoiado sobre os mais variados vícios, e nem estou falando daqueles vícios mais aparentes, pois esses são claramente nocivos, porém, me refiro àqueles "pequenos" vícios mentais que são capazes de levar, sorrateiramente, a vida de qualquer um que não se dê conta da existência deles, à ruína.

Além disso, qualquer indivíduo cujo espírito esteja minimamente desperto consegue perceber que grande parte da estrutura social foi projetada para instigar e trazer à tona a maldade, herdada do pecado original, que existe na mente natural dos ser humano, ou seja, no Ego, que a Escritura Sagrada chama de carne. Eis um dos motivos de, em oração ao pai, o próprio Cristo ter dito o que foi registrado em João 17.15, a saber: "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.". Na verdade, o mal ao qual Jesus se refere nesse versículo não é o mal coletivo que nos rodeia, praticado por outras pessoas, mas sim o mal que já está dentro de nós alojado nas camadas mais superficiais da nossa mente; em outras palavras, o mal citado na oração de Jesus em João 17.15 não é aquele que os outros causa a nós, mas aqueles que nós causamos a nós mesmos, e como consequência disso, o mal que infligimos ao meio ambiente e as pessoas ao nosso redor. Aliás, esse mal metamorfo que há dentro de cada indivíduo, que assume as mais variadas faces e formas, é justamente a origem, o "centro nervoso", de toda a maldade que existe no meio social.

Quando compreendemos isso nos tornamos capazes de concentrar a luz da nossa consciência, potencializada pela fé, direcionando-a para o nosso próprio interior, e isso torna "visível" para nós mesmos a nossa própria maldade (apegos, aversões, paixões, ambições, etc...), pois como Eclesiastes 5.13 deixa claro: "...A luz tudo manifesta.". Assim, conseguimos nos desvencilhar, gradativamente, de todo esse mal subliminar da nossa própria carne, e ao fazermos isso, escapamos das garras da sociedade; ou seja, deixamos de possuir a mesma essência obscura e a mesma mentalidade caótica que formam a sociedade atual.

Nesse ponto começamos a ver e a interagir com a sociedade mantendo sempre certo distanciamento mental e espiritual; ou seja, começamos a "enxergar" claramente a "hierarquia do engano", que nada mais é do que a estrutura invisível por trás, e por baixo, do formato social visível; ou seja, é o motivo pelo qual a humanidade pensa, sente, fala e age de maneira tão insana, cada qual consigo mesmo, e também com o seu próximo. Quando passamos a perceber essa "hierarquia do engano", isso significa que o véu que cobria o nosso entendimento e nos impedia de ver a realidade social além das aparências foi retirado, ou seja, já não estamos mais imersos, adormecidamente, de corpo e alma, no sistema invisível da sociedade. De fato, a nossa vida prática cotidiana continua fluindo (se desenvolvendo, desenrolando e acontecendo) dentro dos limites da sociedade, em outras palavras; nós continuamos trabalhando, comprando, consumindo, viajando, estudando e fazendo todas as coisas lícitas que podem ser feitas no contexto social, mas, já não fazemos nenhuma dessas coisas como antes; ao contrário, todos os nossos atos, palavras, sentimentos, emoções e pensamentos deixam de ter a hierarquia do engano como origem, ou sustentação, e passam a ser originados e sustentados pelo próprio Fruto do Espírito Santo. Isso significa que nós começamos a viver dentro da sociedade, mas ela deixa de viver dentro de nós. E esse processo acontece com absolutamente todos os verdadeiros cristãos, e é exatamente por isso, também, que Jesus, falando a respeito dos cristãos genuínos, disse o que foi registrado em João 17.16, a saber: "...Não são do mundo, como eu do mundo não sou.".

Mas você pode estar se perguntando o seguinte: O que é essa tal hierarquia do engano?

É a forma do mundo citada no texto de Romanos 12.2, quando diz: "E não vos conformeis com este mundo...". Conformar significa estar em conformidade, tomar a forma, de algo, no caso, a forma do mundo (sociedade). Essa hierarquia do engano é a estrutura invisível e imperceptível, para todos os que ainda estão imersos nela, desenvolvida e sustentada pelo espírito do mundo para manter a humanidade, cada indivíduo, preso nos mais diversos enganos espirituais, mentais e materiais. De fato, quando percebemos que essa hierarquia do engano existe e está ativa direcionando os pensamentos, sentimentos, palavras e ações de bilhões de pessoas ao redor do planeta, logo conseguimos entender o seu funcionamento.

E como é esse funcionamento?

Muito simples. O espírito do mundo inseriu em praticamente todos os indivíduos que caminham sobre a face da terra, desde a infância, e ainda continua fazendo isso por todo o tempo da existência da maioria das pessoas, uma grande quantidade de ilusões dos mais variados tipos, tamanhos, formatos e valores; semelhantemente, ele espalhou na sociedade diversas outras ilusões que "conversam", interagem, despertam, aguçam, e se conectam, diretamente com as ilusões que já estão ativas dentro da mente e do coração das multidões, para que esse contato entre tais ilusões sejam atrativas, sedutoras e produzam todo tipo de engano na vida de homens e mulheres, adultos e até crianças; por esse motivo também foi escrito o texto de Tiago 1.14 que diz: "Cada um é tentado quando atraído e enganado pela sua própria concupiscência.". Note que nesse versículo, a essência da palavra concupiscência significa justamente as ilusões que estão dentro de cada ser humano assim como aquelas que estão na sociedade, mas são adotadas pelos indivíduos como sendo deles.

Mas isso não é tudo. Pois se estamos falando de uma hierarquia então deve haver mais coisas envolvidas e não apenas um único nível, ou seja, deve haver algo acima das ilusões. E há. Pois quando esse tão grande número de ilusões começa a interagir no interior das pessoas elas (as ilusões) se agrupam e geram algo ainda mais sedutor, atrativo, nocivo e enganador. Uma fantasia. E quando várias fantasias se formam no íntimo de qualquer um, elas se tornam algo com um poder de atração, sedução e enganação terrivelmente intenso e que está mantendo boa parte da humanidade cativa.

E o que seria isso?

O conjunto de fantasias produzem um sonho. Isso mesmo; e esse é um dos principais motivos de todas as vozes da sociedade nos dizerem repetidamente que jamais devemos desistir dos nossos sonhos, porque a verdade é que a maioria dos "sonhos" que as pessoas têm no seu interior não são realmente delas, mas foram produzidos artificialmente por outras pessoas, empresas, instituições, religiões, e por diversas outras forças da sociedade, como o senso comum e o status quo; por meio do acúmulo de uma "legião" de ilusões e fantasias sociais.

Um nível além, ainda mais sedutor, atrativo, enganador e destrutivo está o nível da hierarquia do engano que ocorre quando as pessoas se deixam ser levadas pela multidão de ilusões que se tornam fantasias que se multiplicam e se transformam em um sonho que se "reproduz" até gerar um delírio (que pode ser individual ou coletivo). É nesse nível que se encontram as mais diversas teorias da conspiração tão comuns na sociedade atualmente. Se olharmos à sociedade com esse entendimento em mente logo perceberemos vários exemplos de pessoas e grupos que foram enganadas pelos próprios delírios; Napoleão, foi um caso muito famoso, mas há vários outros, e não só pessoas famosas, mas também anônimas das mais diversas épocas e classes sociais; desde líderes políticos e religiosos até cidadãos comuns, atores(as), atletas, empresários, assalariados e absolutamente todo tipo de cidadãos.

Na verdade, ainda há um outro nível ainda mais extremo na hierarquia do engano que é o frenesi (quando se trata de um único indivíduo) e a histeria (quando falamos de várias pessoas), mas vou abordá-los um pouco mais a fundo, assim como a sua conexão com os demais níveis do engano, em um texto específico sobre esse tema. O ponto importante para o nosso atual estudo aqui é perceber que tais níveis de engano existem e podem ser visto até com relativa facilidade, e evitados, por qualquer um que esteja suficientemente lúcido (na mente e no espírito), embora tais coisas sejam uma das armadilhas do espírito do mundo que mais tem aprisionado vidas tanto na sociedade quanto dentro das mais diversas congregações. 

Toda essa "mecânica" estrategicamente preparada para consumir a alma dos indivíduos está afligindo, em menor ou maior grau, as pessoas que têm vivido inconscientemente no meio da sociedade (mundo), e apenas aqueles que conseguiram usar a luz da fé verdadeira (consciente), em Cristo, para iluminar o próprio interior, identificando tudo isso dentro de si mesmos e se desvencilhando de todas as ilusões, fantasias, sonhos, delírios e até frenesis ou histerias que encontrarem na própria mente, desde os menores até os maiores, é que conseguirão viver com o espírito e a mente livres, na mais ampla e plena acepção da palavra, dentro de uma sociedade formada por escravos de si mesmos; uma sociedade que tem se tornado cada vez mais enganosa (ilusória) e também está agindo como o único senhor e mestre da vida da maioria. 

Os que se desvencilharam de toda essa artimanha ilusória social são os homens e mulheres, cristãos genuínos, que Jesus afirma que estão no mundo, mas, assim como Ele, do mundo não são.

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