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"...Negue-se a si mesmo..." Lucas 9.23

 


"...Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo..." Lucas 9.23


O que significa negar a si mesmo? E quais os benefícios de fazer isso?

Significa reconhecer que essa imagem psicossocial que temos de nós mesmos, esse nosso "eu" superficial, não é real, mas sim uma ilusão perniciosa e dissimulada cujo único objetivo é nos levar a vários tipos de sofrimentos; e só quando percebemos isso é que conseguimos realmente começar a escapar dessa ilusão tão nociva e encontramos a força necessária para abrir mão de todo o sofrimento que ela nos causa, sofrimentos esses aos quais fomos ensinados a nos apegar desde cedo.

E por quê?

Porque é justamente nesse falso "eu", que nada mais é do que a parte mais superficial da nossa mente natural, que a bíblia chama de carne, e que a maioria das pessoas se identifica como sendo elas mesmas, é que reside todas as fraquezas e falhas da natureza humana, por isso também o próprio Jesus falou o que foi registrado em Mateus 26.41, que diz: "...O espírito está pronto, mas a carne é fraca.". Ou seja, é nesse conceito mental que costumamos chamar de "eu", que residem os "nossos" medos, vícios, paixões, ambições, sonhos, confusões, bloqueios, dúvidas, inseguranças, ignorância, tolices, incredulidade e toda uma vasta gama de fenômenos internos como esses, fraquezas, falando sem parar, às vezes até "gritando", e tentando nos dominar; ditando as regras que devemos seguir durante toda a nossa existência. E infelizmente a maioria das pessoas passa pela vida completamente inconscientes dessa verdade, sem conseguir se desvencilhar dessa terrível ilusão.

O grande problema aqui é que quando passamos muito tempo acreditando que essa ilusão é real, ela ganha cada vez mais "massa" dentro de nós, e espalha seus "tentáculos" para ocupar cada espaço possível da nossa mente até se tornar um delírio monstruoso que enclausura o nosso espírito e devora nossas virtudes, dons e talentos, impiedosamente. De fato, para boa parte das pessoas na sociedade, assim como dentro das mais diversas congregações, o maior peso que eles estão carregando pela vida, e que os está inutilizando cada vez mais, é justamente o peso desse "eu" psicossocial, artificial, condicionado pela coletividade, superficial, e completamente inchado em si mesmo por suas próprias paixões, ambições, sonhos e vaidades. Esse "eu" ilusório sobrecarrega qualquer indivíduo, produzindo e sustentando uma quantidade brutal de cansaço físico e fadiga mental, como nenhum outro fenômeno é capaz de fazer; prendendo as pessoas em diversas corridas, jornadas e batalhas alucinadas e vertiginosas cujo único objetivo é manter os indivíduos alienados para a simples verdade que pode libertá-los e transformar completamente a vida deles.

E que verdade é essa?

Justamente o conhecimento de que esse "eu" psicossocial que os indivíduos têm se esforçado tanto, e até se sacrificado, repetidas vezes, para construir, refinar, agradar e sustentar; sem se dar conta de que ele, influenciado pelas dissimulações e verossimilhanças do espírito do mundo na sociedade, é o principal causador de todos os sofrimentos (aflições de espírito) que estão enfrentando na vida.

No conhecido texto de Mateus 11.28 Jesus diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos (sobrecarregados NVI), e eu vos aliviarei.".

A maneira como Cristo alivia qualquer um que se achegue a Ele é primordialmente tornando-os conscientes da superficialidade, da hiperatividade, da instabilidade, da imaturidade e da irrealidade daquilo que costumamos chamar de "eu"; assim conseguimos perceber todo o peso que esse conceito social que habita na nossa mente, desde a infância, gera e tem gerado sobre nós, tal como suas consequências tanto internas quanto externas. E a partir desse conhecimento renovado começamos a nos desvencilhar de toda a turbulência e distorção mental que esse "eu" ilusório geralmente causa.

Esse é o princípio da negação do nosso falso "eu" e o início do florescer de quem nós realmente somos. 

É nesse momento, quando entendemos que isso que passamos a vida inteira considerando como "meu eu", na verdade pode, e deve, ser dissociado de nós; embora de certa forma, seja algo necessário para vivermos em meio a sociedade com todas as demandas e questões práticas do cotidiano, ainda assim, é tão somente um conceito irreal sustentado pelo senso comum e pela coletividade com o intuito de causar dano e aflições em qualquer um que não seja capaz de discernir a diferença entre a ilusão e a realidade, de modo que se não o isolarmos, ou seja, se não entendermos plenamente que o nosso verdadeiro Eu, a nossa essência real, que é o nosso espírito; repousa além da definição social que construímos, ou construíram, para nós mesmos, jamais seremos capazes de reconhecer e superar as artimanhas do espírito do mundo tanto na sociedade quanto dentro das mais diversas congregações.

Assim sendo, compreendemos que negar a nós mesmo é negar a mente natural e superficial que passamos a vida inteira acreditando equivocadamente que somos nós, mas não é. E só ao fazermos isso, só ao identificarmos e separarmos de nós, claramente, esse falso deus, o "eu" (Ego/mente/carne), que a Bíblia Sagrada também chama de "ventre", com todas as vaidades, paixões, ambições, sonhos, pensamentos, sentimentos, emoções, palavras, inclinações e ações que lhes são características, é que encontramos nossa verdadeira essência, que, é pura, serena, luminosa, estável, satisfeita, feliz, perfeita, e não pode ser influenciada nem manipulada, tampouco pode ser atingida, ferida e abalada por nada que as outras pessoas, a sociedade, ou o próprio espírito do mundo façam, digam ou lancem sobre nós; também por isso foi que o apóstolo Paulo registrou o que está escrito em 2 Coríntios 4.8-9 NVI, que diz: "De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos."

O escritor irlandês Oscar Wilde disse certa vez: "Viver é a coisa mais rara do mundo, a maioria das pessoas apenas existe". Porém, quando desvencilhamos a nossa identidade como seres humanos daquilo que fomos doutrinados a chamar socialmente de "eu", que é a nossa carne-mente-Ego, é quando negamos tal parte do nosso ser; esse é o momento no qual deixamos apenas de existir, como a maioria da humanidade (mesmo dentro das mais diversas congregações), e passamos verdadeiramente a viver, viver em essência, ou seja, viver em espírito; uma vez que nessa condição, a luz que brilha a partir da nossa essência espiritual dará mais visibilidade a todos os impulsos, estímulos e inclinações da carne, como está escrito em Efésios 4.13, que diz: "...Tudo o que é exposto pela luz torna-se visível, pois a luz torna visível todas as coisas.", e ao tornar todas essas coisas do nosso falso "eu", da nossa mente, visíveis para nós, elas começam a se dissolver, porque a nossa mente natural gosta de, e foi concebida para, operar na nossa inconsciência, subliminarmente, sorrateiramente, sem se deixar ser percebida; mas quando a nossa consciência espiritual nos permiti percebê-la, é quando ela começa a ser completamente eliminada. É quando finalmente "abrimos os olhos", recobramos a lucidez, ganhamos a capacidade de ver além das formas, vozes e das aparências ilusórias da mente; despertamos do sono hipnótico que aprisiona a sociedade, e nos abrimos para que a Luz de Cristo possa brilhar através de nós, emanando diretamente da Fonte, que é o Espírito de Deus, e "fluindo" para tudo e todos ao nosso redor por meio do nosso espírito. Por isso também foi escrito o texto de Efésios 5.14 NVI, que diz: "...Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti.".  

Nesse ponto do processo percebemos que essa essência viva e consciente, o nosso espírito, sempre esteve presente em nós aguardando que, pela fé, retirássemos as camadas de inconsciência que esse falso "eu" mantém no nosso interior, escondendo quem realmente somos abaixo da nossa própria superficialidade mental e social; semelhantemente, percebemos também que o nosso espírito, desde a nossa conversão e batismos (nas águas e no Espírito), sempre esteve pronto para se erguer acima da nossa mente natural, faltava apenas tomarmos consciência disso, por esse motivo também foi que Jesus afirmou que "...O espírito está pronto...", pois a verdade é que o espírito está sempre pronto, toda a fraqueza reside na nossa mente natural. E quando negamos esse nosso "eu superficial", que é essa mente natural, e nos reconhecemos como a presença consciente que chamamos de espírito, um milagre acontece, nos colocamos em uma posição fora do alcance de todas as fraquezas que estão na nossa carne e ela não poderá mais nos influenciar, dominar ou aprisionar, exceto se nós mesmos nos deixemos conduzir ou arrastar novamente para a servidão da inconsciência; mas veja o que foi registrado no texto de Gálatas 5.1; está escrito: "Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.".

Enquanto nos mantivermos conscientes dessa verdade, a luz dessa consciência aumentará gradativamente em nós, iluminando toda a nossa existência e nos aperfeiçoando no processo; como o texto de Provérbios 4.18 afirma ao dizer: "A vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.". Assim, o nosso "eu" superficial jamais terá controle sobre nós novamente, ao menos não tão plenamente como costumava ter, e nós poderemos seguir a Cristo sem qualquer reserva ou bloqueio, exatamente da maneira como Ele deseja que façamos.

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