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"Ainda tenho muito o que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora." . João 16.12

 

"Ainda tenho muito o que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora." João 16.12

Como fazer para que possamos compreender plenamente e aceitar todas as coisas mais profundas e elevadas que Deus deseja nos falar?

Uma das maiores dificuldades da humanidade é compreender a diferença vital entre a forma e essência de todas as coisas, e por esse motivo as multidões passam toda a sua existência presas apenas no nível das formas, que é o nível mais superficial e básico de tudo o que nos rodeia; dessa maneira, são facilmente ludibriados por outros, ou enganam a si mesmos, por causa das aparências que o mundo possui. 

A maioria das pessoas na sociedade, assim como dentro das mais diversas congregações, não conseguem evoluir além daquilo que a própria sociedade permite, assim, ficam impossibilitadas de perceber todas as maravilhas que estão fora do âmbito condicionado social, ou seja, tais pessoas ficam cegas para grande parte das coisas que fazem parte do âmbito mental e também do âmbito espiritual; por esse motivo passam a viver de maneira totalmente desequilibrada em si mesmos; pois as únicas coisas para as quais dão alguma importância são aquelas que fazem parte do contexto social, assim sendo, ficam totalmente impossibilitados de entender, e vivenciar, poderosas características e virtudes como a fé, o perdão, a graça, a misericórdia, a paz, o amor e muitas outras.

E por que isso acontece?

Porque tais indivíduos, homens e mulheres, religiosos ou laicos, membros e líderes de congregações ou da própria sociedade, se tornaram prisioneiros do próprio intelecto.

Mas o que isso significa?

Significa que desde muito cedo na nossa existência o espírito do mundo usa as mais variadas vozes sociais para nos convencer a alimentar o nosso intelecto, cultivar o nosso intelecto, desenvolver o nosso intelecto, lapidar o nosso intelecto, e, refinar o nosso intelecto, de modo que nos tornemos totalmente, e desesperadamente, dependentes desse intelecto no qual investimos tanto tempo e esforço para construir. Algumas pessoas, inclusive, passam a ser conhecidas como intelectuais tanto na sociedade quanto dentro das congregações.

Mas isso não é algo bom?

Seria, se as pessoas tivessem plena consciência de que nem todas as respostas para a nossa vida podem ser obtidas através do intelecto humano porque essa faculdade mental foi condicionada (contaminada) pela sociedade, e tudo o que é condicionado pela sociedade, de alguma maneira, pode ser manipulado livremente pelo Ego humano, que é a nossa mente corrompida, que a Escritura Sagrada também chama de carne. O nosso intelecto só consegue medir, interpretar e manipular as coisas que fazem parte do "nível" das formas, seja em escala microscópica ou universal, entretanto, nosso intelecto não é capaz de perceber, medir, e compreender, nada que esteja em um nível mais elevado na existência humana, mesmo que seja algo que esteja bem diante de nós, por esse motivo, também, foi que Jesus certa vez falou aos seus discípulos o que ficou registrado em João 16.12, que diz: "Ainda tenho muito o que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.". Em outras palavras, o Mestre desejava transmitir muitos ensinamentos realmente espirituais para os discípulos, mas Ele tinha consciência de que naquele momento eles não conseguiam analisar, perceber e compreender adequadamente nada que estivesse além do nível mais superficial da vida, que é o nível das formas, o nível em que o intelecto da maioria da humanidade se encontra; em outras palavras, Jesus sabia que os discípulos, naquela ocasião, ainda estavam presos ao intelecto que possuíam e isso atrapalharia a compreensão e a assimilação de qualquer conceito que fosse puramente mental ou essencialmente espiritual, pois tais conceitos, por natureza, são mais profundos, e ao mesmo tempo mais elevados, do que a maneira como o intelecto humano opera. 

O nosso intelecto não é qualificado para acessar qualquer "coisa" que esteja fora do seu vasto, mas limitado, raio de ação (por mais paradoxal que isso pareça), assim, logo nos damos conta de que o intelecto humano não consegue entender a essência do próprio ser humano, ou seja, ele não consegue compreender o espírito humano e nenhuma das "coisas" no nível espiritual, seja no que se refere ao nosso próprio espírito, ou ao espírito do mundo, ou mesmo ao Espírito de Deus, pois tais coisas só podem ser realmente aceitas, vistas e compreendidas a partir de uma posição além do intelecto, ou seja, a partir de uma perspectiva espiritual; por esse motivo também foi escrito o texto de 1 Coríntios 2.14, que diz: "...O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". O homem natural mencionado no versículo é justamente o nosso intelecto, que por natureza está preso ao nível superficial das formas.

O problema é que ao tentar discernir todas as coisas somente de modo intelectual, nosso intelecto se torna justamente a maior barreira que nos manterá afastados da verdade e nos impedirá de compreender a essência da realidade, sem edições, sem ilusões, sem fantasias, sem sonhos, sem ficções, e sem qualquer uma das artimanhas geradas pelo Ego que está em nós (nossa carne), pelo Ego das outras pessoas que coabitam conosco na sociedade, ou pelo espírito do mundo.

Quando o nosso intelecto se torna a única "lente" através da qual vemos a nós mesmos, interna e externamente, assim como tudo o que nos rodeia na sociedade, na natureza e no universo; perdemos de vista a essência da existência humana, assim como a essência da própria criação; pois todas as coisas se tornam ilusoriamente sólidas, fixas, rígidas, frias, automática, matemáticas, lógicas; meros dados, provas, números, e letras; porém, a verdade é que há uma infinidade de coisas em nós, e na nossa vida, que não podem ser mensuradas ou compreendidas de forma tão "mecanizada" ou "binária", de fato, com um olhar e uma mentalidade tão "acorrentada" jamais seremos capazes de compreender verdadeiramente coisas como o amor, a sabedoria, o perdão, a alma, a consciência, a graça, a misericórdia, e a fé; de fato, esses são apenas alguns poucos exemplos que estão além do pragmatismo do intelecto humano. Por exemplo, qualquer um que tente perceber e compreender o amor de maneira meramente intelectual acabará perdido em um grande emaranhado de teorias e hipóteses, que podem até fazer algum sentido para qualquer um que esteja inchado em seu próprio Ego intelectual, mas que na verdade, tal compreensão estará limitada apenas à camada mais superficial do que o amor realmente é; e isso por sua vez impedirá não só que tal pessoa consiga encontrar unidade com toda a vastidão, profundidade, magnitude, e vida, do amor, a si mesmo, ao próximo e a Deus, como também impedirá que o amor seja experimentado plenamente e possa gerar os frutos benéficos que lhes são característicos. O intelecto consegue escrever e teorizar sobre o amor, mas é incapaz de vivenciá-lo verdadeiramente. E o mesmo acontece com a fé, com o perdão, com a consciência, com a graça, com a sabedoria, com a vida e com muitos outros atributos espirituais como esses.

É verdade que quanto mais desenvolvido for o intelecto de alguém, mais socialmente útil ele pode ser, mas isso não significa necessariamente que será; porém, mais perigoso ele se torna, pois maior será a força e a pressão que ele exercerá sobre tal indivíduo para que toda a vida e a existência sejam investigadas e processadas apenas dentro dos limites que tal intelecto possui; e isso é uma das causas que mais geram distorções de entendimento na mente e no estilo de vida das pessoas, assim como todo tipo de atrito entre o Ego dos indivíduos, porque de maneiras muito sutis e específicas:

Um filósofo "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da filosofia;

Um psicólogo "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da psicologia;

Um teólogo "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da teologia;

Um sociólogo "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da sociologia;

Um biólogo "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da biologia;

Um tecnólogo "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da tecnologia;

Um físico "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através das leis e forças da física;

Um historiador "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da história;

Um religioso "inconsciente" tenta compreender o mundo apenas através da religião.

E assim por diante.

Mas o que é um indivíduo "inconsciente"?

Um indivíduo inconsciente é alguém que ainda não percebeu que o intelecto não é capaz de compreender tudo nem de obter todas as respostas, uma pessoa "inconsciente" é aquela que não consegue desvencilhar a si mesma de seu intelecto. E embora tal pessoa seja capaz de encontrar respostas para grandes questões sociais e científicas, permanece cega para toda a essência mais primordial da existência humana.

Você já ouviu alguém fazer, ou já se fez, a seguinte pergunta: Qual é o sentido da vida?

Se você parar para observar, vai notar que essa pergunta é feita sempre pelo nosso intelecto tentando trazer para dentro dos seus domínios algo que está muito além da sua capacidade de processar. A verdade, porém, é que essa pergunta não expressa nenhuma necessidade sincera de encontrar o real motivo da vida humana na terra, mas apenas um desejo intelectual de encontrar uma teoria que seja aceita cientificamente, ou religiosamente, pela humanidade. O problema é que como toda a vida não é apenas um ajuntamento de átomos de carbono como nossas ciências sugerem, mas sim, é composta também por uma grande parcela de algo que as lentes científicas do intelecto não são capazes de ver; tal pergunta intelectual, e sem sentido, continua simplesmente sem uma resposta definitiva. O intelecto humano diz querer encontrar respostas essências sobre todas as coisas, mas ele, por definição só consegue contemplar a forma de tudo e não a essência, logo, suas respostas, mesmo quando forem úteis, disruptivas ou revolucionárias, serão sempre incompletas; pois a verdade é que a onda do mar não sabe quase nada sobre as profundezas do oceano. 

Certa vez li uma famosa frase do também famoso poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, que aponta justamente para essa incapacidade do intelecto humano em compreender a totalidade da Criação; a frase é a seguinte: "Há muito mais entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia pode sequer imaginar.". Em outras palavras a essência dessa frase diz que existe muito mais no universo, na natureza, e em nós mesmos, do que o nosso intelecto tem condições de compreender. Mas se fizermos como a maioria das pessoas na sociedade e continuarmos apegados ao modus operandi (o modelo de pensamento e ação) do nosso intelecto, continuaremos cegos para a luz da verdade em todos os aspectos da nossa existência, tanto nas coisas mais simples quanto naquelas que nos são cruciais.

Embora todas as ciências do intelecto humano, assim como muitas outras, tenham o seu devido grau de importância, assim como o seu lugar adequado no contexto da nossa vida social, pois são capazes de compreender partes específicas do nosso ser e do mundo em que vivemos, assim como do universo, e até da própria da Criação; e, de certa forma, sejam vitais para o desenvolvimento da humanidade como espécie; elas falham justamente quando se trata de ver além de si mesmas; de fato, nenhuma forma de pensamento intelectual foi concebida ou desenvolvida para ser capaz de ver além de suas próprias fronteiras, o que elas geralmente fazem é tentar trazer tudo para dentro dos seus limites. Foi também ao perceber esse fenômeno social que o Filósofo alemão Arthur Schopenhauer disse certa vez que: "Toda pessoa toma como os limites do mundo os limites do seu próprio campo de visão.". 

Por mais que, socialmente, desenvolver o nosso intelecto seja sim algo que devemos fazer; isso deve ser feito com a devida vigilância e equilíbrio para que tal intelecto não se torne a nossa "religião", e portanto, a nossa prisão; ou seja, um filósofo, um médico, um professor, um teólogo, um advogado, um vendedor, um empresário, um aluno, ou qualquer pessoa que esteja desenvolvendo o seu intelecto, não deve se apegar tanto a ele, nem a qualquer área de pensamento humano na qual seu intelecto esteja se desenvolvendo, a ponto de se iludir achando que assim poderá encontrar todas as respostas da existência, pois se o fizer, ficará preso(a), e estará condenado(a) a considerar a própria vida e a dos outros seres humanos como algo de menor valor do que ela realmente é, apenas como mais uma variável ou um mero objeto de estudo, e nesse ponto, grandes atrocidades acabam sendo cometidas, voluntária ou involuntariamente. 

E como fazer para que o nosso intelecto não nos aprisione?

Precisamos deixar de ser o nosso intelecto e começar a ser algo maior, pois quando deixamos de ser o nosso intelecto ele passa a ser uma de nossas melhores e mais valiosas ferramentas, mas enquanto continuarmos sendo ele, ele nos dominará e permaneceremos cegos.

Mas o que é maior do que o intelecto?

A outra "parte" de nós, a maior "parte" de nós, aquela que é capaz de observar atentamente tudo e compreender todas as coisas da criação que estão ao nosso alcance de maneira serena, equilibrada, clara e desapegada; ou seja, estou falando do nosso espírito.

De fato, o nosso espírito está além do Ego que há em nós. O nosso espírito está em contato direto com o próprio Espírito do Criador, e por consequência, está em contato direto, e profundo, com toda a essência (a fonte) da criação. Quando o Espírito é a forma como "enxergamos" todas as coisas, dentro e fora de nós, não há mais lentes distorcendo nada, apenas a percepção e a compreensão clara de todas as coisas, mesmo daquelas que estão, de alguma maneira, fora da nossa capacidade humana de entendimento. Quando o nosso espírito "aflora" em unidade com o Espírito de Deus, percebemos que o intelecto é apenas uma importante ferramenta, um meio e não um fim; percebemos que o intelecto humano não é assim tão consistente e confiável quanto costumam achar que é, pois ele pode ser facilmente ludibriado e manipulado pelo Ego (carne), entendemos que o mais importante é a essência de todas as coisas e não a forma como elas se apresentam diante dos nossos sentidos; assim, grandes mistérios da humanidade como a fé, o amor, a consciência, o perdão e muitos outros se tornam perfeitamente compreensíveis, pois eles são a pura essência da nossa existência, e a maioria das formas que eles possuem na sociedade foi dada pelo intelecto das pessoas.

A vida não está restrita apenas aos limites que o intelecto atribuiu a ela, na verdade, só conseguimos compreender a vida plenamente se formos capazes de nos desvencilharmos do nosso intelecto e combinarmos adequadamente o conhecimento proveniente do intelecto com o entendimento e o discernimento que vêm do Espírito, através do nosso espírito. Esse é o caminho para a sabedoria definitiva, esse é o caminho para a plena compreensão e aceitação de tudo o que Deus tem a nos dizer e revelar.

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