"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males..." 1 Timóteo 6.10
Se você acha que o amor ao dinheiro é equivalente apenas à avareza e à ganância; saiba que ele não se resume apenas a estas duas formas, na verdade, o amor ao dinheiro é algo bem mais abrangente e bem mais presente na vida de muitas pessoas do que elas se dão conta. Nesse texto vamos tentar olhar para o versículo de 1 Timóteo 6.10 um pouco além do óbvio para encontrarmos uma das formas de amor ao dinheiro que tem afetado a vida, e a mente, de cada vez mais homens e mulheres de todas as idades ao redor do planeta, e mesmo assim, está passando despercebida, muito embora produza todo tipo de fardos psicossociais que arrastam e lançam os indivíduos em grande sofrimento. Mas para começar, farei uma pergunta bem óbvia, que é:
O que é o amor ao dinheiro?
Para conseguirmos entender mais a fundo essa questão, primeiro nós precisamos dissecar e compreender o que o dinheiro realmente é.
E o que ele é?
O dinheiro é a forma que a sociedade encontrou para ser o parâmetro que rege e sustenta todo tipo de transações sociais de consumo e de serviço. Mas se queremos ter uma visão mais clara sobre o que é o amor do dinheiro então precisamos compreender a própria essência do dinheiro.
Por mais estranho que pareça à primeira vista, a essência do dinheiro é algo que todos nós conhecemos muito bem, algo que tem nos acompanhado desde a infância e que quanto mais adultos nos tornamos, mais se fortalece dentro da maioria de nós. O desejo. De fato, a palavra hebraica para dinheiro é o verbo "Kesef" que, genericamente falando, significa justamente desejar ou almejar algo.
Mas como o desejo pode ser a essência do dinheiro?
Lembro-me que quando li isso pela primeira vez, pensei que não havia nenhuma relação entre desejo e dinheiro, mas depois de algum tempo percebi que isso faz todo sentido e pude compreender que há uma ligação íntima entre um e outro.
Desde a queda do ser humano através do Pecado Original as pessoas têm sido hospedeiras de toda sorte de desejos sobre absolutamente tudo o que a mente natural (Ego/carne) pode conceber, ver, tocar, sentir, provar e ouvir. E no momento em que as pessoas se organizaram em sociedade, tais desejos se tornaram desejos coletivos; assim, a sociedade, inconscientemente, sentiu a necessidade de encontrar uma maneira para quantificar e mensurar os desejos sociais que surgiam vindos de dentro da mente humana, materializando-os no meio social.
No princípio havia o desejo de ter seu ofício recompensado, o desejo de conseguir algo que outra pessoa tinha, o desejo de obter alimento, vestimenta e utensílios produzidos por alguém, o desejo de possuir uma propriedade; depois vieram os desejos por luxos, ascensão social, prazeres, poder, distinção, e uma série de outros que ainda se mantém vivos e dominantes em nosso meio até os dias atuais. E foi para essa finalidade, e muitas outras semelhantes, que a sociedade desenvolveu uma ferramenta que se mostrou muito útil quando está nas mãos certas e terrivelmente destrutiva quanto está nas mãos erradas. Assim surgiu o dinheiro.
Trocando em miúdos, basicamente, o dinheiro e a maneira social que as pessoas possuem para tornar os seus desejos internos (lícitos e ilícitos) em realidade.
Em outras palavras, o dinheiro nada mais é do que a materialização tangível e objetiva de fenômenos mentais, subjetivos e intangíveis, que são os desejos que as pessoas têm por todo tipo de coisas e experiências. O problema é que com o passar do tempo e com a evolução da civilização, uma das muitas deformidades do espírito humano, produzidas pelo Pecado Original, começou a ganhar cada vez mais volume no interior dos indivíduos até o ponto de se tornar uma espécie de doença perniciosa e subliminar na humanidade.
E que deformidade é essa?
A multiplicação desenfreada dos desejos humanos. Na verdade, quanto mais a civilização humana evoluir, maior, mais intensa, mais violenta, e mais frenética, será a multiplicação dos desejos sociais dentro dela. Ou seja, quanto mais tivermos, mais vamos querer ter. E embora muitos não entendam assim, essa deformidade da carne humana é algo como uma maldição que a humanidade carrega dentro de si.
O rei, e sábio, Salomão, percebeu essa deformidade, inclusive em si mesmo, e foi também por esse motivo que ele deixou registrado o texto de Provérbios 27.20, que diz: "...Os olhos do homem nunca se satisfazem.". Em outras palavras, o que Salomão estava observando era que: "As pessoas nunca param de desejar". De fato, todos nós sabemos, por experiência própria, que quanto mais alguém deseja, mais desejos surgem dentro de tal pessoa; e quanto mais desejos surgem, mais as pessoas se apegam e se identificam com tais desejos.
E qual é o problema disso?
O problema é que essa quantidade tão grande, e cada vez maior, de desejos, se tornou algo tão familiar para as pessoas que acabou gerando uma profunda dependência emocional e sentimental entre os indivíduos e os desejos que estão gravitando no interior deles, porém, tal dependência não é, nunca foi, e jamais será, algo saudável; pelo contrário, é tóxica, doentia e animalesca (é obvio também que essa dependência profunda dos desejos é pecado); na verdade, é aquilo que costumamos chamar de paixão, e por causa de suas paixões o ser humano é capaz de todo tipo de insanidades, monstruosidades e abominações, contra outras pessoas, contra si mesmos, e até contra o planeta em que vivemos; esse é um dos motivos pelos quais foi escrito que o amor ao dinheiro é a raiz de TODA espécie de males, pois ao nos tornarmos apegados e dependentes dos desejos sociais, eles vão gerar uma grande obsessão por dinheiro (que é a sua contraparte material) e através dessa obsessão a humanidade vai ferir, das mais diversas maneiras, a si mesma e ao planeta que nos serve de lar. Desmatamos florestas inteiras para obter dinheiro; erradicamos espécies animais que existiam no planeta por causa de dinheiro; poluímos o ar, os rios, os lagos e até os mares por causa de dinheiro; exploramos as forças e a fé dos nossos semelhantes por causa de dinheiro; criamos guerras terríveis por causa de dinheiro; massacramos povos por causa de dinheiro; matamos pessoas por causa de dinheiro; roubamos, mentimos e traímos por causa de dinheiro, só para citar alguns exemplos fáceis de serem vistos na sociedade atual que tanto se vangloria de ser civilizada.
Durante toda a história da sociedade as pessoas desejaram fama, poder, status, riquezas, e autoridade, mas como esses desejos são coisas intangíveis que estavam dentro da mente deles, o que eles fizeram para materializar tais desejos foi encontrar uma forma, nem sempre lícita, de adquirir e acumular grandes somas de dinheiro (de acordo com o "tamanho" e a "intensidade" dos seus desejos), para que todos ao seu redor, conhecidos e desconhecidos, ao vê-los em sua fortuna, compreendessem que possuíam fama, poder, status, e autoridade, por causa da grande quantidade de dinheiro que acumularam. Isso foi feito, e ainda hoje é; por imperadores, reis, ditadores, sacerdotes, fidalgos, políticos, empresários, celebridades, atletas, criminosos, e pelos mais diversos "tipos" de pessoas e instituições que fazem parte da sociedade.
Mas essa mecânica correlacionando desejos e dinheiro não é algo que ocorre apenas com coisas como fama, poder e etc..., mas com absolutamente qualquer desejo social que a mente humana seja capaz de conceber; por exemplo: Digamos que alguém deseja comprar um determinado modelo de carro, seja popular ou de luxo, não importa, o fato é que tal pessoa precisará de uma quantidade específica de dinheiro equivalente ao carro que está desejando; o mesmo ocorre com a compra de uma casa, roupas, acessórios, eletrônicos, joias, viagens, experiências e absolutamente tudo o que a sociedade tem para oferecer. Do ponto de vista social, que é o ponto de vista do Ego/carne, o dinheiro é que move o mundo.
Cada desejo social que há dentro do ser humano possui o seu equivalente material, ou seja, a sua quantia proporcional em forma de dinheiro; e foi por esse motivo, também, que em algum momento da história humana a sociedade cunhou a "máxima" que diz que toda pessoa tem seu preço. Essa "máxima" se apoia no fato de que quanto mais desejos alguém tiver dentro de si, mais suscetível tal pessoa estará a ser seduzido, corrompido, dominado e escravizado pelas mais diversas tentações monetárias que estão espalhadas na sociedade; por isso também é que o texto de Tiago 1.14 afirma que: "...Cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.". Em outras palavras, o que o apóstolo Tiago está revelando é que cada desejo dentro de nós produzirá uma grande quantidade de tentações que, mais cedo ou mais tarde, vão nos iludir e dominar.
Agora você sabe o motivo de a sociedade moderna fazer tudo ao seu alcance, usando todas as fontes e forças que possui, para continuar incutindo e fomentando cada vez mais desejos no âmago das multidões. Pois quanto mais desejos alguém tiver dentro de si, mais obcecado(a) será, ainda que não percebe, por dinheiro, na tentativa de atender a tais desejos que continuarão se multiplicando assim como a obsessão que eles geram pelo dinheiro necessário para realizar tais desejos. Também por esse motivo foi escrito em Eclesiastes 5.10 o texto que diz que: "Quem amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro...".
Se levarmos em conta que cada um dos desejos que há no interior das pessoas, possui a sua equivalência material, na forma de dinheiro, pois na maioria absoluta das vezes (para não dizer todas) é através do dinheiro que os indivíduos conseguem realizar seus desejos, desde os menores e mais inofensivos até os mais megalomaníacos, extravagantes e destrutivos; podemos então concluir que, com a multiplicação desenfreada dos desejos dentro das pessoas, elas se lançarão cegamente (embora não admitam ou nem reconheçam) em uma busca alucinada, incessante, obstinada, compulsiva, e inconsciente, para adquirir uma quantidade de dinheiro que equivalha ao tanto de desejos que há dentro delas; o problema é que esses desejos nunca vão parar de surgir e se multiplicar, pois essa é uma das falhas da natureza humana; e mesmo que o indivíduo consiga realizar alguns deles, ou mesmo todos, eles rapidamente dão origem a outros muito maiores em tamanho, intensidade, preço, ou até mesmo em insanidade. De fato, o homem que tentar realizar todos os desejos que há dentro de si passará toda a existência lutando contra uma espécie de "hidra", como aquela grande serpente da mitologia grega, de modo que para cada cabeça desse "monstro mental" que eles arrancam (cada desejo alcançado), outros dois, ou mais, surgem no lugar. Da mesma maneira que a necessidade pelo dinheiro que tais desejos demandam. E essa é uma batalha perdida para qualquer um mesmo que se consiga tudo o que se deseja.
Não é preciso muito esforço para perceber que passar a existência dessa maneira não é algo sustentável ou saudável, nem para o nosso corpo, nem para a nossa mente, nem para o nosso espírito. De modo que além de ter de lutar durante toda a vida para conseguir cada vez mais dinheiro que lhes permitam realizar seus desejos, tais pessoas ainda terão de lidar com todos os efeitos colaterais dessa busca vertiginosa. Efeitos como a ansiedade, a ambição, a ganância, as dívidas, a insatisfação, o estresse, a ostentação, e tantos outros que estão "acorrentando" pessoas a vários sonhos, fantasias e ilusões sociais cada vez mais pesados e perturbadores.
Quando Paulo diz que o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males, ele está sendo muito mais abrangente do que nós geralmente conseguimos captar em suas palavras à primeira vista, na verdade ele também está falando que os desejos desenfreados que as pessoas mantém dentro de si os tornam obcecados e os obrigam a tomar sobre si, inconscientemente, mas voluntariamente, todo tipo de aflições de espírito (sofrimentos) para adquirir quantidades cada vez maiores de dinheiro que lhes permita alcançar e sustentar seus, sempre crescentes, desejos sociais, mesmo os mais imaturos e insensatos.
Mas como assim?
Se observarmos diligentemente a nossa natureza humana perceberemos em pouco tempo que, em um nível mais profundo, o desejo é a raiz de males como a frustração, a inquietação, a ambição, a depressão, e muitas outras coisas semelhantes a essas. Mas vamos ver um exemplo prático moderno que tem se tornado muito comum nos dias atuais, e que como todos os males provocados pelo apego aos desejos, que é a obsessão ao dinheiro, está levando multidões literalmente à ruina: O consumismo.
Esse é um bom exemplo do que o amor ao dinheiro é capaz de fazer com alguém, sem que tal pessoa nem mesmo se dê conta do que está ocorrendo; pois uma vez que o consumismo é causado pelo desejo descontrolado de ter e acumular todo tipo de bens e sonhos de consumo, de modo que uma pessoa consumista se torna escrava da falsa necessidade social de conseguir grandes somas de dinheiro apenas para gastá-lo, ou desperdiçá-lo, inconscientemente, tentando saciar seus desejos por possuir coisas, e repetindo esse ciclo que os mantém constantemente experimentando um pouco de entusiasmo, e euforia, seguidos de muita frustração, insatisfação, ansiedade, estresse, dívidas e muito mais, sem perceber que a raiz de todo esse atrito interno e externo que eles estão sempre experimentando é justamente o apego aos desejos descontrolados que estão sempre obrigando-os a viver obcecados por adquirir mais dinheiro para comprar, ostentar e acumular cada vez mais coisas que na maioria das vezes nem necessitam.
É bem verdade também que por causa do apego aos desejos desenfreados e a compulsão por dinheiro que eles produzem é que muitos indivíduos mentem, roubam, matam, se prostituem e cometem todo tipo de comportamentos inapropriados e reprováveis que, de alguma forma, geram caos em toda parte, mas nesse texto estou me concentrando em formas de males provocados pelo amor ao dinheiro que geralmente não são abordadas e estão sempre passando despercebidas, mesmo sendo fonte de sofrimento e ruína para muitos. Aliás, não é por acaso que todos os sábios da filosofia oriental sempre disseram que o desejo é a fonte de todas as formas de sofrimento. E qualquer um que se dedique minimamente a conhecer a si mesmo perceberá que a maioria dos desejos que possui em seu interior, são desejos sociais de consumo.
De fato muitos têm mergulhado a vida em um verdadeiro caos porque estão seguido, apegados obcecadamente ao desejo desenfreado de consumo que há no interior deles para se tornarem ricos segundo o que a sociedade entende que isso é, e parte do que a sociedade chama equivocadamente de riqueza nada mais é do que o acúmulo exagerado de todo tipo de bens e posses; mas não sabem que essa obsessão vai traspassá-los com inúmeros males, ou seja, dores e sofrimentos; exatamente como o revelado na Escritura sagrada, em 1 Timóteo 6.9, que diz: "Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e na ruína.".
Todo cristão verdadeiro sabe que rico não é aquele que tem muito dinheiro, ou os bens de consumo que o dinheiro pode comprar, mas rico é aquele que está livre dos desejos sociais desenfreados. O filósofo estoico Sêneca, que segundo alguns estudiosos, trocou correspondências com o apóstolo Paulo, disse certa vez: "Pobre não é aquele que possui pouco, mas antes, aquele que deseja muito.".
A ânsia por conseguir alcançar e realizar os mais diversos desejos sociais obsessivamente pela aquisição e acúmulo de dinheiro também é o que a Escritura Sagrada se refere em Mateus 13.22 quando fala da Sedução das riquezas como sendo espinhos afiados que sufocam a compreensão da Santa Palavra na mente dos indivíduos. Está escrito: "E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas (o amor ao dinheiro) sufocam a palavra, e fica infrutífera.". Sim, embora cada vez mais congregações, líderes e membros, estejam venerando o dinheiro, os luxos fúteis e supérfluos e todos os desejos e sonhos de consumo sociais como se só isso fossem as marcas definitivas de espiritualidade elevada, a verdade é que essa obsessão disfarçada vai impedir que tenham plena compreensão da essência da Palavra de Deus e acabará arrastando multidões inteiras à ruína; que muitas vezes será uma ruína luxuosa, mas ainda assim, tão somente uma ruína.
E como podemos fazer para não sermos arrastados pelos desejos que estão em nós de modo a não ficarmos obcecados por dinheiro para saciar tais desejos?
Nos tornando conscientes deles, o máximo possível, e os substituindo por intenções, de fato, todo sábio aprende a trocar os desejos que há em seu interior por intenções, porque eles entendem que os desejos têm uma grande capacidade de cegar e controlar a vida das pessoas, enquanto que sobre nossas intenções nós temos total controle, ainda que, em princípio, nãos sejamos capazes de perceber isso.
Uma vez que nos tornamos conscientes dos mais diversos desejos que estão dentro de nós e começamos a trabalhar ativamente para nos desapegarmos deles, a obsessão pelo equivalente material de tais desejos, o dinheiro, também começa a perder a força e a atração que antes exercia sobre nossos pensamentos, sentimentos, emoções, palavras, e ações.
Muitas pessoas acreditam equivocadamente que o amor ao dinheiro é algo que só se manifesta na forma de avareza e ganância, mas isso não é verdade, há outras formas muito mais socialmente aceitas, inclusive dentro das mais diversas congregações, de alguém materializar o amor ao dinheiro. Com esse novo entendimento da correlação entre desejos e dinheiro, passamos a ver esse tema de maneira muito mais ampla e nos tornamos mais capacitados para identificar essas outras maneiras que a sociedade usa para fazer as pessoas amarem o dinheiro; assim sendo, com o tempo e a devida direção divina, conseguida através das Escrituras Sagradas, conseguiremos identificar em nós mesmos potenciais desejos que possam nos tornar obcecados por dinheiro, e ao identificarmos, saberemos o que precisará ser feito para nos desapegarmos deles e nos tornarmos livres de todos os males internos e externos que eles causam.
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