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"Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á..." Marcos 8.35

 


 "Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará" Marcos 8.35

O que a maioria absoluta da humanidade chama de vida, é, na verdade, uma grande fantasia social; de fato, ela é a maior de todas as fantasias sociais as quais cada indivíduo é exposto, e permanece submerso, durante toda a sua existência.

Mas como assim fantasia?

Uma fantasia é um conjunto de sonhos; e um sonho é um conjunto de ilusões; logo, uma fantasia social é o conjunto de cada um dos sonhos e ilusões sociais, que as pessoas carregam dentro de si. E são muitos, mais do que temos coragem de reconhecer.

Essa tão chamada "vida" é um grande conglomerado dos mais diversos tipo de ilusões, internas e externas, sejam tais ilusões, pessoais, profissionais, sentimentais, culturais, políticas, econômicas, financeiras, religiosas, e até espirituais; entre outras. E essa grande massa ilusória, fantasiosa, pulsante, funciona induzindo as pessoas a desenvolver e praticar as mais variadas espécies de pensamentos e comportamentos completamente disfuncionais baseados na forma como a sociedade supostamente funciona. Esse funcionamento padronizado, sistematizado e predeterminado da sociedade se divide em duas forças que praticamente controlam tudo o que há na sociedade, tais forças são o que nós comumente conhecemos como "senso comum" e "status quo".

Por causa da influência, sutil e dissimulada, que o espírito do mundo exerce sobre a humanidade desde a consumação do pecado original, as pessoas foram, e ainda são, ensinadas e convencidas pelas mais diversas vozes sociais (pais, professores, amigos, colegas, líderes, e até pastores) de que a vida delas é apenas esse conjunto de coisas, tarefas e sonhos que devemos ter, fazer, alcançar, combater, encontrar, construir, desejar, comprar, experimentar e acumular. Desde muito cedo todos nós ouvimos algum tipo de sugestão do tipo: Estude, tire boas notas, arrume um bom emprego (ou crie um negócio), ganhe dinheiro, case-se, tenha filhos, compre coisas, realize os seus sonhos, compre mais coisas, se aposente, compre ainda mais coisas...); de fato, existe uma infinidade de variações dessa sugestão que é repetida pelas vozes sociais de maneira hipnótica para que, a cada repetição, tal instrução seja, inconscientemente, reforçada e solidificada como uma verdade absoluta dentro da mente dos indivíduos fazendo com que as pessoas passem a acreditar cegamente que essa é a linha do tempo da nossa existência na terra; ou seja, tais indivíduos passam a crer que essa sucessão de acontecimentos é a única definição de vida que está disponível para a humanidade.

O problema é que por causa da mente natural corrompida que há no ser humano, o Ego, que a Escritura Sagrada chama de carne; cumprir todas as etapas daquela sucessão de tarefas que a sociedade chama de vida, tendo que lidar com uma quantidade crescente de exigências, pressões e demandas arbitrárias do espírito do mundo, espalhadas e disfarçadas na coletividade, torna-se algo extremamente complexo, confuso, caótico, desgastante, pesado, doloroso e massacrante, pois o Ego está sempre nos mostrando novos sonhos, assim com multiplicando os desejos sociais dentro de nós em uma velocidade alucinante, e exigindo que façamos todo tipo de esforços completamente desnecessários, e sacrifícios, para alcançá-los. Você já ouviu alguém dizer que para se conseguir algo na vida é necessário fazer sacrifícios? Pois é, eis aí o eco da voz do Ego humano reverberando na sociedade.

Essa "vida" alienada que se resume apenas a atender os caprichos sociais do Ego, sejam tais caprichos, pessoais, profissionais, financeiros, religiosos ou quaisquer outros; e não estou falando de nada que seja ilegal ou imoral, mas sim me refiro a várias coisas que são amplamente aceitas como normais e até inofensivas, porém, que podem facilmente dominar a existência das pessoas e levar qualquer um que não esteja devidamente consciente, sóbrio e vigilante, a desperdiçar grande parte, ou todos, os seus anos sobre a face da terra. De fato, essas são as coisas às quais o apóstolo Paulo se refere em 1 Coríntios 6.12, ao dizer: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convém; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.".

Essa "vida", que tem sido a vida moderna de bilhões; é a forma mais insana de existência; e muitos estão tão inconscientes, tão adormecidos, que após "viver" assim por décadas e mais décadas, são surpreendidos quando chegam em determinada altura de seus dias na terra e percebem que jogaram fora, desperdiçaram a própria existência correndo atrás de "vaga-lumes no vendaval".

Mas há alguma alternativa?

Claro que sim. Cristo e a sua Palavra, o evangelho; apontam para essa alternativa que é a vida verdadeira, a vida além dos sonhos, além das fantasias, ilusões e desejos sociais; por isso Ele mesmo disse certa vez o que está escrito em João 10.10b: "...Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância.". A vida abundante da qual Jesus fala é uma vida sem os impulsos e imaturidades do Ego (carne); sem a influência das vaidades, ambições e exageros sociais tão alardeados, aplaudidos e desejados pelas multidões; uma vida sem essa quantidade absurda de fardos, dores e sofrimentos produzidos por tantas demandas desnecessárias que supostamente temos de cumprir durante nossa existência; uma vida sem aquela sensação de vazio existencial cada vez mais comum, e profunda, na mente das pessoas, uma vida sem as frustrações e insatisfações de estarmos sempre correndo em círculos, distraídos e apressados; uma vida que não necessita de sacrifícios particulares para ter sentido. Como o próprio Deus revela em 1 Samuel 15.22b, quando diz: "...Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar...".

A vida que há em Cristo, que nos é apresentada na Escritura Sagrada e aquela que temos acesso ao obedecermos a sua Santa Palavra, ela está baseada e é sustentada pelo amor, a Deus, a nós mesmos e ao nosso próximo; por isso foi escrito em Mateus 22.37-39: "E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.". Diferentemente da vida que há na sociedade que tem sido caracterizada por todo tipo de paixões egoístas, incontroláveis, aparências enganosas e toda uma vasta gama de ambições, sonhos e cuidados sociais que funcionam como espinhos constantemente machucando o corpo e a mente da humanidade. Mas veja o que o próprio Jesus ensinou aos cristãos em Mateus 6.25; Ele disse: "...Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta?". Em outras palavras o que o Mestre estava dizendo é que não devemos nos dedicar tanto aos, desejos, sonhos, ambições, vontades, projeções, planos, realizações, posses, e todas as coisas que a sociedade convencionou chamar de vida moderna, e tenta nos convencer de que são para o nosso sustento e proteção enquanto indivíduos. Pois a vida real é aquela que nós perdermos completamente de vista sempre que nos envolvemos demasiadamente com o que o senso comum e o status quo chamam de vida. 

De fato, a vida real, a vida que há em Cristo, não pode ser alcançada em nenhum lugar, ou coisa, fora do nosso próprio ser, pelo contrário, ela precisa ser descoberta dentro de nós, "desenterrada" ao retirarmos do nosso interior essa tão grande quantidade de ilusões, sonhos e fantasias sociais que se acumularam durante toda a nossa existência, desde a infância, e que muitas vezes fazemos questão de estocar como se fôssemos contêineres, sem perceber que são essas coisas que estão nos sobrecarregando em todos os sentidos. Em Mateus 11.28, Jesus disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.". Quanto mais nos aproximamos de Cristo mais Ele nos mostra a diferença que há entre essa "simulação" que a sociedade chama de vida e a verdadeira vida, além disso Jesus nos faz perceber que para viver a vida real precisamos retirar do nosso interior todas as" tralhas" psicossociais que nos foram entregues ao longo do tempo, pois enquanto essas "tralhas" estiverem na nossa mente continuarão produzindo fardos e sofrimentos em nós e através de nós. 

Porém, muitos ainda se recusam a olhar diligentemente para dentro de si e iniciar esse processo de retirada de todas as "tralhas" psicológicas que acumularam durante a sua vida social, e ainda estão acumulando, tralhas essas que estão entulhadas nas mais diversas formas, como memórias, como pensamentos, sentimentos, emoções, desejos, paixões, intenções, ambições, vaidades, projeções, megalomanias e uma vasta gama de outros "objetos mentais" empilhados uns sobre os outros de maneira completamente caótica.

O problema é que se nossa mente permanecer apegada e identificada com toda essa "tralha mental", como se ela fosse a nossa vida, perderemos de vista todas as dádivas da vida real, que é a vida que realmente importa; por exemplo: Enquanto valorizarmos mais as coisas, os bens, as posses, o dinheiro, o status e etc... do que as pessoas; nunca teremos relacionamentos verdadeiros e significativos tanto de amizade, quanto de irmandade ou amorosos. Semelhantemente, enquanto dermos mais importância para as futilidades e superficialidades da vida social e desprezarmos o que há de essencial na vida, nunca seremos realmente felizes, livres e não conseguiremos estar em equilíbrio e paz, interna e externamente.

Todas as pessoas que se dedicaram a viver de acordo com o que a sociedade disse que deviam fazer chegaram no fim da própria existência e descobriram que desperdiçaram seu tempo na terra, eles descobriram tarde demais que fama, fortuna, status, influência e tantas coisas semelhantes não são a vida, elas podem até, se forem controladas e usadas conscientemente, fazer parte da vida de alguém, mas não são a totalidade nem a essência da vida de ninguém. Infelizmente muitas dessas pessoas partiram da existência sem realmente ter experimentado a vida real, pois passaram todos os seus anos extremamente ocupados(as), envolvidos(as) e consumidos(as) pela automação da vida social. Indivíduos que se esforçaram ao máximo, lutaram com todas as forças, e se sacrificaram várias vezes, para manter e proteger (salvar) aquilo que eles achavam que tinham, mas que no fim descobriram que não tinham absolutamente nada além de tralhas. Estes são, também, aqueles aos quais a Escritura se refere quando diz: "Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á...".

Mas todo aquele que usar os ensinamentos da Escritura Sagrada para se desvencilhar dessa suposta vida social automatizada, esse sim, lançará fora todas as tralhas que se acumularam dentro de si e será capaz de experimentar, mesmo nas menores coisas e questões, todo o frescor e a vivacidade da verdadeira vida que há além de toda essa fantasia delirante e exaustiva chamada de vida moderna. 

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