"Pois a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne..." Gálatas 5.17

 

"Pois a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis." Gálatas 5.17

Como é que a carne cobiça contra o Espírito? E o que isso provoca em nós?

Uma das compreensões que mais mudaram a minha maneira de entender a mim mesmo e mudou completamente a forma como vejo toda a minha existência foi a percepção de que a minha mente, também chamada de carne nas Escrituras Sagradas, não é minha amiga, ao contrário, a mente natural é minha inimiga oculta; constantemente disfarçada, mascarada, dissimulada, trabalhando como uma espécie de espiã dupla contra mim; sempre se mantendo muito próxima do meu verdadeiro ser, mas ao mesmo tempo, sutilmente, e sorrateiramente, me sabotando em todas as questões verdadeiramente importantes do meu viver.

Quando, porém, a luz (clareza, consciência e lucidez) de Cristo me fez perceber que isso estava acontecendo comigo, entendi também que o mesmo está ocorrendo com bilhões de pessoas ao redor da terra; pessoas que sem perceber a natureza corrompida, ou seja, dúbia, ardilosa, infantil, facciosa, maniqueísta e viciosa da própria mente, deixam-na agir sem restrições dentro deles e são facilmente subjugados por qualquer adversidade ou inimigo externo, por mais fraco que seja, pois a mente dessas pessoas conhece todos os seus segredos mais profundos, todos os seus medos, suas incertezas, suas inseguranças e todos os seus pontos fracos; e ela explora tudo isso sorrateiramente sempre de modo a enfraquecê-los em qualquer situações, tanto nas sem importâncias quanto naquelas que são cruciais.

Nossa mente natural, nossa carne, é algo que finge ser parte de nós, mas que na verdade trabalha para o espírito do mundo, de modo a, disfarçadamente, nos manter presos, distraídos, sobrecarregados e oprimidos por todas as ilusões, fantasias, artimanhas, mecânicas, conceitos e sonhos dourados e venenosos que a sociedade possui.

E por que a nossa mente natural é assim, ela não foi criada por Deus?

Sim. Nossa mente foi criada por Deus para servir como a mais fabulosa "ferramenta" da criação, de modo a beneficiar a raça humana de uma maneira que nem mesmo podemos supor, porém, quando o pecado original foi consumado em Adão e Eva, a mente humana foi contaminada com um "parasita", uma espécie de simbionte psicológico decaído que se apossou, se fundiu, e se camuflou em nós de tal maneira que geralmente passa toda a existência das pessoas sem ser percebido como a grande ameaça que é. De fato, bilhões de pessoas nasceram, cresceram, e morreram sem nunca questionar os ímpetos e impulsos desse "simbionte" que é sua própria mente natural.

E que simbionte é esse?

O Ego humano.

O Ego que há em cada um de nós é a nossa mente natural corrompida em ação; é aquela voz dentro da nossa cabeça que está constantemente criando narrativas distorcidas sobre tudo, sempre nos dando sugestões aleatórias, produzindo pensamentos sem propósito, sempre alimentando sentimentos venenosos, dando vazão a emoções sem controle, sussurrando intenções viciosas, nos induzindo a ações vazias, apontando sempre para tudo o que está errado, sempre julgando tudo e todos, sempre opinando, sempre se fazendo de vítima, sempre se sentindo ofendido, sempre reagindo, e assim por diante.

O Ego humano produz tanto ruído, tanta tralha, tanta confusão e tanto caos mental, que as pessoas são "soterradas" sob toneladas de pensamentos, sentimentos, emoções, sensações, desejos, ambições, sonhos, memórias, projeções e uma infinidade de outras coisas como essas, diariamente, durante todas as horas do dia, sem nenhuma pausa; de fato, nos dias atuais a mente/Ego/carne das pessoas tem estado tão hiperativa, acelerada, tagarelando e gerando uma quantidade gigantesca de insatisfações diversas que o ato de pensar se tornou uma tortura para muitos mais indivíduos do que podemos imaginar.

Será que você consegue visualizar isso; pessoas sendo torturadas pela própria mente?

Essa é a função do Ego; produzir tanta resistência interna em relação a própria pessoa, a tudo o que a rodeia, e até a Deus, que qualquer coisa, situação ou circunstância, mesmo as mais banais se tornam uma fonte poderosa de sofrimentos ampliáveis e multiplicáveis exponencialmente, também chamados de aflições de espírito na Escritura Sagrada. E tais sofrimentos vão se acumulando dia após dia, ano após ano, até que as pessoas comecem a achar a própria vida insuportável e, desesperadamente, entreguem-se a todo tipo de vícios lícitos ou ilícitos, numa tentativa de encontrar algum alívio e anestesiar o caos na própria mente; algo que não funciona, mas como estão desesperados, continuam aumentando a "dosagem" de seus vícios até que, de alguma maneira o cérebro ou o corpo deles entre em colapso.

Quando a Escritura Sagrada afirma que a carne cobiça contra o Espírito, o que está sendo dito também é justamente que a nossa mente natural corrompida, ou seja, o Ego que há em nós, nos mantém tanto tempo ocupados tendo que lidar com essa quantidade massiva de turbulências "sem fim" que nos tornamos completamente insensíveis às inspirações do Espírito que gentilmente tenta nos fazer despertar de toda essa insanidade inconsciente.

Ao darmos tanta atenção à nossa mente/Ego com suas paixões e concupiscências, acabamos involuntariamente sufocando nosso próprio espírito por anos, décadas, ou até por toda a nossa existência na terra. E é para que isso não aconteça com nenhum de nós que a Escritura Sagrada enfatiza a necessidade de crucificarmos o Ego/carne que está em nós; como foi registrado em Gálatas 5.24, que diz: "E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.".

Quando começamos o processo de crucificação da nossa carne/Ego, nós tiramos a atenção que estamos dando à mente e, de modo consciente, a colocamos nas virtudes do Espírito, assim estaremos retirando a força que antes dávamos a carne e estaremos criando condições para que o nosso espírito possa finalmente lutar de uma maneira mais justa contra a nossa mente natural corrompida.

E você sabe o que acontece quando fazemos isso?

Quando o Ego que há em nós perde a nossa atenção e o nosso engajamento com as coisas que ele produz, sejam pensamentos, sentimentos, emoções, lembranças, projeções, ambições, sonhos, ou quaisquer outra coisas como essas, ele fica cada vez mais fraco, pois esse "parasita" precisa de nossa interação com ele para sobreviver, mas sem essa interação ele começa a se desfazer; e quando ele finalmente se desfaz é o momento em que a nossa carne é finalmente crucificada.

Quando a carne é crucificada, nosso Ego é definitivamente dissolvido, a nossa mente fica livre dessa influência "simbiótica", nefasta, injetada em nós pelo espírito do mundo; e o Espírito de Deus finalmente encontra espaço suficiente dentro de nós para abrir as asas e nos elevar a altitudes que estão muito além do alcance de todas as artimanhas e armadilhas do senso comum e do status quo que regem a sociedade e são consideradas equivocadamente como vida.