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“...Qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado...” Lucas 18.14



“...Qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.” Lucas 18.14

Deixe-me começar esse texto reproduzindo a parábola contada por Jesus em Lucas 18.1-14 e em seguida vamos fazer algumas considerações. Eis a parábola:

“Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou o dízimo de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para a sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.”

Tente imaginar toda essa cena, seja cuidadoso(a), o que ela tem de semelhante com o que está acontecendo atualmente nas mais diversas congregações, tanto com membros quanto com líderes?

Na sociedade em que estamos vivendo não é preciso fazer nenhum esforço para sermos capazes de ver diversas pessoas ostentando com bens, dinheiro, status e conquistas; infelizmente, também não é preciso se esforçar muito para ver que dentro de várias congregações também há pessoas ostentando, porém tais indivíduos estão ostentando religiosidade, espiritualidade, "santidade" e "fé" sem perceber que tal ostentação é tão vaidosa quanto qualquer outra demonstrada no contexto social. Pessoas que acreditam ser mais espirituais, mais santas do que outros, mais especiais do que os outros, mais escolhidas do que os outros, mais abençoadas do que os outros, mais dignas, mais valiosas, mais cristãs, e assim por diante. Tais pessoas, dissimuladamente, colocam-se acima dos demais membros ou líderes de suas congregações, ou de outras congregações, pois pensam que são melhores pastores do que os demais, melhores profetas, melhores mestres, melhores ministros, melhores obreiros, melhores teólogos, ou até melhores membros, se é que isso faz algum sentido. O problema que eles parecem ignorar nessa mentalidade é que ela não é nada além de mais uma das artimanhas ardilosas do Ego humano (carne), e como tal, é completamente contrária ao Espírito, pois como está escrito em Gálatas 5.17: "...A carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro...".

Uma das coisas que todo cristão verdadeiro sabe, mas que passa completamente despercebido por outras pessoas é que quando o Ego (carne) percebe que está perdendo a batalha contra o Espírito, ou mesmo antes disso, quando ele percebe que pode haver uma batalha interna que lhe seja desfavorável, ele passa a adotar uma abordagem mais "religiosa", mais "espiritual", porém fingida e sorrateira, para assim continuar, sutilmente disfarçado, mas no controle da vida dos indivíduos, exatamente como antes, porém, com uma nova máscara e uma outra fantasia.

Tal como aquele fariseu mencionado por Jesus na parábola, esses ostentadores espirituais estão sempre exaltando sua própria vaidade sob a forma de espiritualidade, sempre justificando a si mesmos no seu próprio coração, gabando-se de sua religiosidade "acima da média", comparando-se injustamente com outras pessoas que eles julgam indignas, pecadoras, e concluindo que estão em melhores condições diante de Deus; entretanto, ficaram completamente cegos para perceber a miséria que há neles por terem adotado essa mentalidade "espiritualmente" narcisista do Ego, que por sua vez é influenciado diretamente pelo próprio espírito do mundo.

Embora não tenham coragem de dizer abertamente (se bem que atualmente muitos já têm essa coragem), os pensamentos mais profundos desses ostentadores "espirituais" são semelhantes a estes:

* A congregação que eu frequento é melhor porque possui muito mais membros do que aquela outra;
* Eu e os membros da congregação que frequento somos mais abençoados por Deus porque temos mais dinheiro, fama, bens, posses e sucesso do que os membros de outras congregações;
* Eu e os membros da congregação que frequento abrimos mão de todas as riquezas desse mundo, não ligamos para dinheiro, bens, fama, posses, ou sucesso, logo, somos muito mais espirituais do que os membros das congregações que só pensam nessas coisas;
* Sou maior que aquele outro porque lidero muito mais pessoas do que ele;
* Obrigado ó Deus porque sou dessa religião e não sou como as pessoas das outras religiões;
* Graças te dou Deus, porque pertenço a essa denominação e não a outras denominações;
* Eu agradeço a ti ó Deus porque jejuo muito mais do que outras pessoas;
* Eu louvo-te Senhor porque sou muito mais usado em curas e milagres do que as pessoas que conheço.
E assim por diante.

Estes são os que, sempre que possível, gostam de orar pelas praças, esquinas e nas congregações, de maneira mais escandalosa e chamativa que podem, para serem notados em sua "espiritualidade"; contrariando o ensinamento da modéstia espiritual transmitido pelo próprio Cristo em Mateus 6.5, que diz: "E quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam seu galardão.". Lembre-se, hipócritas são todos aqueles cujo Ego se tornou espiritualizado.

Esse tipo de ostentação espiritual e outras semelhantes, ainda que apenas para si mesmos, que muitos fazem diante de Deus, infelizmente, é muito mais normal do que se pode imaginar, e se não mantivermos nossa consciência vigilante nós também podemos acabar fazendo algo semelhante e nos acostumando com isso sem nem perceber.

E qual é o resultado de tais pensamentos:

Temos visto uma quantidade cada vez maior de orações extravagantes, agressivas, obsessivas, julgadoras, preconceituosas, facciosas, frenéticas, confusas, ambiciosas, egocêntricas, políticas, megalomaníacas, narcisista, pirotécnicas, e outras semelhantes, sendo praticadas, ensinadas e vistas como normais porque muitas congregações estão se tornando locais de culto, não a Deus, mas sim ao Ego "espiritualizado" das pessoas que congregam ali, membros e, ou, líderes. O que tais pessoas parecem ignorar é que quando a carne se "disfarça de espírito" ela se torna muito mais perigosa e venenosa (perniciosa) para todos, ou seja, o Ego "espiritual", religioso, é muito mais nocivo do que o Ego natural, muito embora ambos sejam Ego, mas um deles tornou-se ainda mais corrupto e ficou extremamente "refinado" e "polido" na arte da dissimulação; isso é o que a Escritura Sagrada chama de hipocrisia. O Ego é naturalmente maldoso, mas o Ego espiritualizado é, não só maldoso, como também maquiavélico, embora manifeste tais coisas de maneiras extremamente sutis; fazendo com que os indivíduos enganem a si mesmos, assim como levando-os a enganar outras pessoas de boa fé, negociando com a esperança e a ingenuidade do seu próximo, criando projetos de poder político-religiosos para manter o máximo número de indivíduos sobre seu controle, induzindo muitos a erro, "cegando" e distorcendo a fé, e a vida de pessoas que já estão sobrecarregadas, em busca de algum alívio e de salvação. 

Para aqueles que são guiados pelo próprio Ego "espiritualizado", os fins justificam os meios; de modo que eles estão sempre dispostos a impor sofrimento sobre si mesmos e sobre todos ao redor, através de contendas ferozes, sem qualquer sentido, e debates intermináveis sobre dogmas, tradições, doutrinas, ideologias políticas ou sociais e todo tipo de questões religiosas ou teológicas, pois acreditam que tais debates irão, de alguma maneira, conduzi-los a uma maior proximidade com Deus; algo que nunca funciona; por isso também o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo exortou-o como está registrado em 2 Timóteo 2.23, que diz: "E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas.". As contendas são uma das características mais evidentes da pessoas que são guiadas pelo próprio Ego (carne).

Cristãos genuínos sabem que a única maneira de experimentar verdadeira proximidade com Deus; proximidade essa que por sua vez gera liberdade definitiva na vida, é através da morte do Ego, por esse motivo é que foi registrado em Gálatas 5.24 o seguinte texto: "E os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências."; matar o Ego, ou em outras palavras, crucificar a carne, é algo extremamente importante para não deixar que nosso Ego se adapte e se torne "espiritualizado", porque por mais estranho que possa parecer o Ego espiritualizado gosta de exaltar a si mesmo ainda mais do que o Ego natural; ele gosta de influenciar, gosta de impressionar, torna-se muito mais sutil e muito mais opressor. 

O Ego "espiritual" quer ser chamado de mestre, quer ser visto como guru, quer ser seguido como pastor, quer ser servido como um rei, quer ser reverenciado como guia espiritual de muitos; quer ser respeitado como profeta e assim por diante; isso por si só já é bastante perigoso, pois o Ego é carne, logo, é espiritualmente cego, embora finja não ser, mas a cegueira espiritual do Ego humano se dá porque a carne não compreende, e é completamente oposta, às coisas do Espírito; como foi falado claramente em 1 Coríntios 2.14, que diz: "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."; esse homem natural ao qual o versículo se refere é justamente o Ego humano, a parte de nós que está completamente enraizada nas vaidades, paixões e outras concupiscências inerentes da nossa natureza humana; e por mais que ele consiga se passar por espiritual, não faz a menor ideia do que isso realmente seja; de modo que, todos os indivíduos que seguirem ou se permitirem ser doutrinados por alguém controlado por um Ego espiritual acabarão sendo levado a ruína; como Jesus deixa claro ao indagar: "...Pode, porventura, um cego guiar outro cego? Não cairão ambos na cova?" Lucas 6.39. Em outras palavras: Se seguirmos o nosso próprio Ego (carne) espiritualizado, andaremos sempre no escuro e passaremos pela vida caindo em todas as "covas" que nada mais são do que as inúmeras armadilhas sociais, religiosas e espirituais do espírito do mundo espalhadas e posicionadas estrategicamente ao nosso redor.

Não é o nosso Ego que tem de ser espiritual, e sim nós, nossa essência; nosso espírito; pois como está escrito em João 3.6: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito.", se perdermos isso de vista por um breve momento que seja, fatalmente acabaremos como aquele fariseu da passagem de Lucas 18.14, viveremos nos vangloriando de nossa espiritualidade e exaltando (ostentando) nossa religiosidade como se houvesse algum valor nisso, mas tudo o que conseguiremos com esse comportamento infantil será validar a nossa iniquidade e enganar a nós mesmos erguendo uma barreira gigantesca e alargando uma distância cada vez maior entre nós e Deus, na medida que nossas vaidades espiritualizadas aumentam e se multiplicam disfarçadamente, de tal modo que não haverá mais qualquer luz em nós, mas apenas uma sombria e dissimulada escuridão, assim, essa será nossa maior humilhação, pois estaremos voluntariamente nos posicionando entre aqueles rejeitados por Cristo como foi dito em Mateus 7.23, que diz: "E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartaivos de mim, vós que praticai a iniquidade.", porque já teremos recebido nossa "recompensa" antecipadamente quando enaltecemos a nós mesmos. 


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