“Assim
também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em
Cristo Jesus, nosso Senhor.” Romanos 6.11
O que é necessário para alguém conseguir considerar a si mesmo como morto para o pecado?
A resposta óbvia é que tal pessoa precisa morrer definitivamente para o pecado.
Muitas pessoas têm tido dificuldades de morrer para o pecado; eles tem tentando por muito tempo enfrentar, ou fugir, do pecado, mas não se dão conta de que o pecado é apenas um efeito de algo que estão deixando passar despercebido. Na verdade o pecado é um resultado cuja causa, ou causas, são as concupiscências pessoais de cada indivíduo; como Tiago 1.14-15 revela ao dizer: "Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado..."; de modo que a única maneira de alguém se desvencilhar verdadeiramente do pecado é se conseguir se desapegar das próprias concupiscências, pois assim tal pessoa vai morrer definitivamente para o pecado.
E como alguém pode morrer
definitivamente para o pecado?
Em primeiro lugar é necessário compreender que todo pecado nasce como uma tentação e todas as tentações surgem a partir do Ego humano, logo, se matarmos o nosso próprio ego, ou seja, se "crucificarmos a nossa carne", morremos para o pecado; e se morrermos para o pecado a liberdade absoluta florescerá em nós.
O que isso significa?
A única maneira de
qualquer pessoa conseguir ser livre, definitivamente, das garras do pecado,
morrendo para ele em todas as áreas (pessoal, profissional, conjugal e etc...)
assim como nas três dimensões da vida (corpo, mente e espírito) é se tal pessoa
matar o próprio Ego, que a Escritura Sagrada também chama de carne, por
exemplo, na passagem de Gálatas 5.17, que diz: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne;
e estes opõem-se um ao outro.”. Assim como também está se referindo ao Ego, chamando-o de ventre, na parte do texto de Filipenses 3.19, que diz: "...O deus deles é o ventre...". Ou seja, o Ego humano é naturalmente influênciado pelo espírito do mundo, dessa forma ele está sempre em uma luta constante contra as coisas do Espírito de Deus em nós; além disso, ele serve como poço sem fundo, um devorador ao qual as pessoas passam toda a vida sempre tentando preencher e saciar a todo custo, mas sem sucesso.
Mas o que é o Ego?
Se quisermos finalmente aprender a nos livrarmos de toda a influência e manipulação pegajosa e tóxica do Ego que tanto atrapalha nossa experiência de vida, precisamos de uma definição simples e prática que nos permita saber o que ele é. E aqui está essa definição:
O Ego é todo apego e identificação da mente humana com absolutamente qualquer coisa, ele é uma construção mental fictícia que, inconscientemente, fazemos de nós mesmos. A partir desse entendimento fica muito fácil perceber que a maioria esmagadora da humanidade tem sido controlada pelo próprio Ego, levando em conta que cada vez mais os indivíduos têm se apegado e identificado com tudo o que há ao redor, quer sejam coisas, situações ou pessoas (boas ou ruins).
De fato, sempre que alguém se apega e se identifica a um pensamento, sentimento, emoção, sensação, palavra, atitude, comportamento, situação, circunstância, pessoa, objeto, animal etc... o Ego está presente e ativo nesse processo. Eis aqui o "lugar" dentro de nós onde nascem as tentações.
Em 1 Timóteo 6.10a, o apóstolo Paulo diz a conhecida afirmação: "Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males...". A essência do que Paulo está dizendo, na verdade, é a seguinte: O apego e a identificação dos indivíduos ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males.
Mas o que são esse apego e essa identificação que você está mencionando?
Estar apegado a algo significa estar agarrado mentalmente a qualquer coisa; eis alguns exemplos: O avarento é apegado ao dinheiro que possui; o ganancioso é apegado ao dinheiro que deseja possuir; o saudosista é apegado ao passado; o sonhador é apegado à fantasias imaginárias; o narcisista é apegado a própria aparência; o medroso é apegado ao medo; o mentiroso é apegado a mentira; o iludido ou alienado é apegado a qualquer ilusão que a sociedade lance sobre ele; o fã e apegado ao ídolo; o tolo é apegado a sua própria sabedoria falsa; o arrogante é apegado as suas próprias qualidades; o orgulhoso é apegado aos seu próprio status; o angustiado é apegado a tristeza; o materialista é apegado aos bens materiais, o consumista é apegado ao consumo exagerado; o viciado é apegado ao vício, e assim por diante. Todo apego a algo corrompe esse algo e o transforma em uma concupiscência para a pessoa que se apega.
Já a identificação surge "um milésimo" após o apego, e significa que a pessoa está tornando a coisa na qual se apegou, transformada em concupiscência por causa do apego, em uma parte integrante, e às vezes até dominante, tanto da própria identidade como humano quanto de sua personalidade como indivíduo. Tais pessoas começam a pensar da seguinte maneira:
* A minha religião. (a religião tornou-se parte do meu eu, ou seja, de quem eu sou.)
* O meu partido político. (o partido tornou-se parte do meu eu.)
* O meu time de futebol. (o time tornou-se parte de meu eu)
* A minha congregação ( a congregação tornou-se parte do meu eu).
* O meu líder (o líder tornou-se parte do meu eu).
* O meu dinheiro. (o dinheiro tornou-se parte do meu eu)
* O meu carro. (o carro tornou-se parte do meu eu).
* A minha tristeza. (a tristeza tornou-se parte do meu eu).
* O meu sofrimento. (o sofrimento tornou-se parte do meu eu)
* A minha depressão...
* As minhas vitórias...
* Os meus fracassos...
* A minha aparência...
* Os meus sentimentos, pensamentos e emoções...
* As minhas opiniões e ideias...
* Os meus desejos, sonhos e ambições...
Acho que você já compreendeu e pode até continuar com a lista, se quiser, por si mesmo(a).
É óbvio que fazer isso; permitir que todas as coisas tornen-se uma parte fundamental integrante da nossa identidade é algo que causa muitas inquietações, distorções, ilusões, fardos e sofrimentos para qualquer um, mas como eles não têm nenhuma consciência do que estão fazendo, não são capazes de mensurar a grande quantidade de malefício que essa atitude vai lhes causar no médio e longo prazo.
Além disso, a identificação faz com que qualquer tentação nascida no momento do apego, ganhe cada vez mais volume, intensidade e "massa", ou seja, poder de atração, de modo que comece a seduzir ou fortaleça a sedução já existente como se fosse uma espécie de canto da sereia, e acabe dando a luz ao pecado.
Atualmente vemos não só pessoas egoístas (que pensam somente em si), mas também ególatras (que veneram o próprio Ego); de fato, tais indivíduos, e não são poucos, mesmo dentro de congregações, estão completamente apegados e identificados às suas próprias virtudes, defeitos, empregos, opiniões, desejos, paixões, profissão, ideologia política, social, religiosa; agremiação esportiva, grupo social, posses, sonhos e muito mais; e esse apego impede que eles vejam as coisas, as pessoas e a própria vida como elas realmente são, mas ao contrário, faz com que enxerguem tudo de maneira deturpada, exagerada, facciosa e polarizada.
A última coisa que o Ego deseja é ser descoberto, ele não quer ser levado para a luz, pois na luz há autoconhecimento, consciência, entendimento, discernimento, sabedoria, razão e liberdade, ou seja, na luz há vida abundante; ele sabe que se lançarmos um pouco de luz sobre suas ações e maquinações isso fará com que ele comece a perder o seu poder de manipulação mental ou espiritual, e se continuarmos lançando mais luz sobre ele, logo começará a ter todas as suas ilusões desfeitas. Se o Ego for exposto à luz por muito tempo, tal como um vampiro, será completamente dissolvido e morrerá; e, quando o Ego morre, todas as nossas inclinações naturais para o pecado morrem junto com ele, nós ficamos livres do seu jugo e completamente despertos (vivos) para Deus, uma vez que nossa carne corrompida deixa de nos controlar.
Visto que o Ego não deseja ser descoberto, como um impostor que é, constantemente se passando por nós mesmos, ele também se disfarça usando inúmeras máscaras que as pessoas geralmente pensam ser apenas partes específicas ou traços da própria personalidade, por exemplo: Uma pessoa tímida, cuja timidez causa problemas, geralmente pensa o seguinte: "Essa timidez é parte da minha personalidade, é assim que eu sou"; o que essa pessoa não se dá conta é que tal timidez não faz parte da essência dela, na verdade, essa timidez é apenas uma máscara que o Ego dela usa; dessa forma o Ego permanece escondido nas sombras da nossa própria mente agindo sem qualquer impedimento e sem ser incomodado pela luz. Aliás, não sei se você tem conhecimento, mas a palavra personalidade deriva do do latim persona, que significa literalmente uma máscara.
Qualquer um que não identifique a ação e a manipulação do próprio Ego e não trabalhe conscientemente para matá-lo jamais será realmente livre e passará todos os seus preciosos anos na terra a mercê do temperamento alucinado, infantil e frenético dele. Isso é uma das causas das pessoas estarem tão atribuladas mentalmente e socialmente nos dias atuais; porque o Ego nunca está satisfeito e jamais se aquieta; ele não admite felicidade, embora finja todo o tempo que está procurando por ela; o Ego está sempre tentando viver no passado ou no futuro, nunca no presente; ele é neurótico, ansioso, ativista, e extremamente competitivo. Quando o Ego está no controle não há contentamento duradouro, tampouco gratidão legítima pelas dádivas que possuímos ou recebemos; o Ego é compulsivo, reativo, vingativo; está sempre nos criticando, culpando e nos diminuindo ou nos usando para criticar, culpar e diminuir outras pessoas; ele é amargurado, murmurador; adora criar dramas; é apaixonado por prazeres e alegrias superficiais; gosta de se fazer de vítima; ele quer impressionar os outros, ser reconhecido, vive sempre cobiçando por vanglórias, gosta de protestar; ama debates e contendas de qualquer tipo; quer ter sempre razão; o Ego adora fingir que é espiritual, gosta de se comparar com os outros; e, fortalece a si mesmo toda vez que deixamos ele fazer essas coisas através de nós.
Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que viver sob as condições que o Ego impõe é a maneira mais rápida de qualquer um ser constantemente assediado por toneladas de tentações e açoitado por ondas de todo tipo de pecado; e quando falo pecado não pense apenas em roubo, corrupção, morte, e maldades em grande escala, mas pense também naquelas coisas como uma pequena reação temperamental desmedida; uma "pequena vingança"; uma "pequena esperteza"; ou aquilo que muitos dentro de congregação gostam de chamar de "inveja santa" (como se alguma inveja pudesse ser santa); um julgamento precipitado e equivocado que fazemos de alguém; uma crítica ácida; uma "pequena desonestidade" e etc.. E não se engane, pois mesmo pessoas acima de qualquer suspeita podem estar vivendo totalmente a mercê do próprio Ego, não importa se são bonitos(as), se têm fortuna, se possuem status, se lideram empresas ou congregações, se são famosos; ou se são usados por Deus; nada disso importa para o Ego, aliás, ele também se alimenta insaciavelmente de todas essas coisas e as usa como fonte geradoras de mais tentações que acabam gerando mais pecados.
Pronto. Agora que você já sabe quem é o Ego, como ele age diariamente para nos atrapalhar e até impedir totalmente de vivermos plenamente para Deus, chegou a hora de saber como se livrar dele, ou seja, matá-lo.
E como é?
Através do discernimento. Precisamos estabelecer o hábito diário de fiscalizar nosso interior, nossa mente e nosso coração; tanto em oração quanto em meditação contemplativa nas Escrituras, ou seja, atenção completa e diligente aos nossos pensamentos, pois assim seremos capazes de perceber que a maioria dos pensamentos que achamos que são nossos, na verdade, são do Ego que há em nós, ou seja, da nossa carne. O mesmo procedimento deve ser feito em nossos sentimentos, emoções, tristezas, alegrias, desejos, sonhos, ações e em absolutamente tudo o que surgir no nosso interior; nada pode passar despercebido, nada deve ser negligenciado, pois é assim que vamos, no devido tempo, nos desvencilhar do Ego (do apego e da identificação da mente com todas as coisas que nos rodeiam ou estão em nós). Gálatas 5.24 diz: "E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências."; em outras palavras, a essência desse versículo também quer dizer que os cristãos são capazes de crucificar (matar) o próprio Ego e todas as máscaras dele.
Se fizermos isso usando as virtudes, conceitos, exemplos e ensinamentos da Escritura Sagrada para nos guiar, estaremos lançando a poderosa luz de Cristo sobre nosso interior, pois como foi escrito no Salmo 119.105: "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz, para o meu caminho."; assim o Ego ficará exposto e morrerá, então estaremos realmente mortos para o pecado e finalmente vivos e livres para sermos totalmente guiados pelo Espírito de Deus. Como está escrito em Provérbios 21.1, que diz: "Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do SENHOR; a tudo quanto quer o inclina.".
Não vou dizer que matar o Ego seja algo fácil, principalmente no começo da caminhada; mas a boa notícia é que também não é difícil, basta apenas um pouco de fé, esforço e bom ânimo porque o Ego é influenciado diretamente pelo espírito do mundo. E o próprio Cristo disse certa vez, em João 16.33: "...Tende bom ânimo; eu venci o mundo.". Logo; uma vez que Jesus já venceu o espírito do mundo, nós podemos vencer o nosso Ego, e quando vencemos o Ego o pecado perde qualquer influência sobre nós. Quando o Ego morre, ou seja, quando a nossa carne é realmente crucificada, nossa mente alcança um estado de graça no qual todas as virtudes do amor supremo florescem, multiplicam e frutificam sem qualquer oposição de modo que nossos pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações passam a refletir esse amor ininterruptamente; e nosso espírito encontra espaço suficiente em nós para ser preenchido com a maravilhosa paz de Deus que excede todo o entendimento.
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