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“Dizendo-se sábios tornaram-se loucos.” Romanos 1.22

 


“Dizendo-se sábios tornaram-se loucos” Romanos 1.22

Como podemos identificar alguém sábio e alguém louco (tolo)? Existe alguma maneira simples e prática de fazer isso nos dias atuais?

Sim. Existem várias, mas uma que pode ser facilmente utilizada por todos nós é a seguinte: Perceber que os "loucos", também chamados na bíblia de tolos, adoram opinar sobre tudo, o tempo todo, enquanto os sábios preferem permanecer em silêncio na maioria absoluta do tempo, até mesmo em algumas ocasiões em que suas opiniões são solicitadas.

Antes de começar a viver de acordo com o cristianismo eu era como a maioria das pessoas na sociedade, vivia dando opiniões sobre absolutamente qualquer assunto e várias vezes minhas opiniões entravam em rota de colisão com as opiniões de outras pessoas ao meu redor, tanto em temas que continham alguma importância quanto em outros sem qualquer relevância prática para nossa vida.

Opiniões são um dos elementos mais inúteis da nossa sociedade, entretanto, são também um dos mais abundantes e supervalorizados, principalmente nessa época hiper-conectada na qual nosso modo de vida praticamente nos expõe diariamente a um turbilhão de temas e assuntos, muitos deles, polêmicos e estéreis, que acabam produzindo na mente e no coração das pessoas uma verdadeira enxurrada de comentários e críticas opinativas que são espalhadas por toda parte da sociedade na forma de textos, áudios e vídeos, com o intuito de influenciar, convencer, manipular ou simplesmente agredir outros indivíduos.

E sabe o que é pior em tudo isso?

Esse comportamento infantil é considerado pelas multidões como uma espécie de demonstração de sabedoria. Todas essas pessoas que estão sempre prontas para emitir suas opiniões, mesmo e principalmente, quando não solicitadas, enxergam a si mesmos como sábios modernos, embora não admitam; talvez não seja algo proposital na mente deles, mas mesmo de maneira inconsciente tais indivíduos são guiados pelo próprio ego; eles acreditam que a sociedade, seus círculos de amizade e todos com que têm contato não conseguiriam viver sem ouvir, ver ou ler as "pérolas de sabedoria" que eles estão distribuindo de forma aleatória e gratuita sempre que possível. Eles não sabem, mas como o escritor estoico Ryan Holiday colocou em seu livro, O Ego é o inimigo: "Nosso ego elimina qualquer chance de servirmos à missão da qual fazemos parte".

Em Provérbios 3.7a está escrito: "Não seja sábio a teus próprios olhos.", mas a maioria esmagadora da população, inclusive aqueles dentro de congregações, não conseguem evitar fazer isso, e esse é um dos motivos pelos quais eles ficam tão contrariados e agressivos quando suas opiniões são contestadas ou rejeitadas por outras pessoas, pois lá no fundo eles pensam mais ou menos o seguinte: Como alguém ousa contestar ou rejeitar minhas opiniões se tudo o que eu falo está muito bem estruturado e baseado em fatos e evidências? Mas o que talvez essas pessoas não percebam é que em quase 100% dos casos os fatos e evidências nos quais nos baseamos para estruturar nossas opiniões são os que estão, de alguma maneira, alinhados com nossa forma de ver a realidade e a sociedade, ou seja, nossas opiniões estão apoiadas apenas por nossas próprias preferências, percepções e inclinações; logo, são opiniões com algum tipo de vício de origem, e isso as torna estéreis, de modo que podem levar os outros a erros, incompreensões e confrontos, porque não contemplam o todo das coisas, mas apenas as partes que nos interessam. Raríssimas, são as pessoas que conseguem emitir algum parecer sobre um tema ou assunto, partindo de uma posição mental de completa imparcialidade; e embora os cristãos legítimos consigam fazer isso, na maioria das vezes preferem permanecer em silêncio.

Pessoas realmente sábias quase nunca emitem opiniões sobre qualquer assunto, primeiro porque entendem que os indivíduos ao redor estão sempre inclinados a distorcer tudo o que escutam, principalmente, se não estiver alinhado com suas preferências (sociais, políticas, religiosas, esportivas e etc...); e segundo, porque sabem que opiniões, mesmo as bem intencionadas, tendem a gerar outras opiniões contrárias que não visam encontrar nenhuma solução ou denominador comum entre as partes, mas simplesmente, produzir debates sem sentido, contendas de palavras, para provar que o ponto de vista de alguém, com o ego inchado, está certo, e que o do outro está errado; ou uma batalha verbal sem fim entre duas ou mais pessoas também com o ego inflado por sua própria "sabedoria". Esses debates e combates opinativos que podem ser vistos por toda parte, na televisão, na internet e dentro de quase todos os espaços físicos da sociedade como escolas, empresas, universidades, e até congregações, são um exercício unicamente da carne, ou seja, do ego humano, e a Escritura Sagrada chama esses comportamentos de porfias e dissenções; como está escrito em Gálatas 5.19, que diz: "Poque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissenções, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas..."

Todo cristão verdadeiro evita ao máximo possível tomar parte nesses espetáculos monstruosos que são os combates de opinião sobre qualquer tema, onde as pessoas, vendo a si mesmos como sábios, tentam forçar sua maneira de compreender e interagir com o mundo sobre as outras pessoas; e isso por si só já é uma das faces da loucura; eis o motivo pelo qual Paulo instruindo a Timóteo nos deixou o seguinte ensinamento: "... Não tenham contendas de palavras, que de nada aproveitam e são para a perversão dos ouvintes." 2 Timóteo 2.14. Cristãos legítimos, como Paulo e Timóteo, sabem que a sabedoria é modesta, fala pouco, e nunca discute; mas a tolice (loucura) gosta de aparecer, é tagarela, e adora criar e alimentar discussões sobre tudo sempre que possível. 

Eu também adorava dar opiniões sobre tudo, mas quando o cristianismo abriu os meus olhos e me concedeu um pouquinho de entendimento sobre mim mesmo, percebi que não possuo entendimento suficiente para opinar sobre quase nada do que eu achava entender. Foi quando eu percebi que na maioria das vezes é muito melhor permanecer em um silêncio consciente e intencional do que se entregar à falação inconsciente e inconsequente. Deixe que os "sábios" da sociedade gritem uns com os outros e discutam entre si, pois todos eles "Dizendo-se sábios tornaram-se loucos" e nem perceberam.

Quer dizer que não posso dar opiniões sobre temas que domino?

É claro que pode; o que estou dizendo é que é bem mais sábio não fazê-lo, por um motivo muito simples. A maioria absoluta das pessoas não está interessada nas nossas opiniões por mais bem intencionados que sejamos, o que eles querem de verdade é encontrar algo dentro das nossas opiniões, uma ideia, um conceito, uma crença, ou qualquer coisa que vá de encontro à opiniões deles para que possam usar isso como ponto de partida para uma batalha completamente sem sentido contra nós. Infelizmente há pessoas, desde indivíduos comuns, passando por membros e líderes religiosos, até presidentes de nações, que por falta de entendimento correto, se enveredaram nessas batalhas de opiniões e tornaram-se prisioneiros delas, vivem praticamente todos os dias atacando alguém ou defendendo-se do ataque de alguém, seja nos ambientes virtuais, como nas redes sociais, ou nos lugares físicos que frequentam.

E o que eles ganham com isso?

Uma vida muito mais pesada do que o necessário. Eles voluntariamente aumentam a quantidade de estresse, raiva, angústia, insatisfação com as quais tem de lidar diariamente; eles submetem e sobrecarregam a própria alma com toda essa loucura perturbadora, como está escrito na segunda parte de Provérbios 13.3 que diz: "...O que muito abre os lábios (fala, critica, opina, discute, debate) tem perturbação.". O imperador romano, e filósofo, Marco Aurélio, dizia regularmente para si mesmo: "Suprima suas opiniões e estará seguro. Quem te impede de agir assim?".

O espírito do mundo sussurra no ouvido da humanidade que cada indivíduo deve ter opiniões formadas sobre todos os temas possíveis, ou pelo menos no máximo de assuntos que pudermos opinar, principalmente os mais polêmicos; ele também diz sutilmente que nossas opiniões devem ser sempre firmes e fortes, pois isso seria uma forma de marcarmos nossas posições e mostrarmos à sociedade que somos pessoas firmes e fortes. Claro que esse argumento não passa de mais uma das falácias que o espírito do mundo sopra sobre os homens. De fato, todas as vezes que vemos alguém dizer que é uma pessoa de opiniões fortes, a possibilidade de tal pessoa ser um tolo (louco) passando-se por sábio é enorme; porque pessoas de "opiniões fortes" é, na verdade, uma forma sofisticada que eles encontraram para dizer que são intransigentes, ou seja, são aqueles que não abrirão mão das suas opiniões mesmo que elas façam mal a eles mesmos e aos outros; eles querem, todo o tempo, provar que estão com a razão, ao invés de encontrar soluções, e essa é uma das principais características dos tolos, que acham que são capazes de produzir alguma luz com esse comportamento, mas na verdade são muito mais parecidos com lâmpadas apagadas.

Os sábios de verdade não precisam provar nada para ninguém, não precisam sair disparando opiniões pra todo lado, pois a sabedoria não é um distintivo ou uma medalha que eles ficam por aí mostrando ou ostentando para todos ao redor, a sabedoria é a essência dos sábios, ela é cultivada no silêncio consciente e produtivo; e, começa no fato de serem sábios neles mesmos, internamente, sem qualquer vaidade ou pretensão de ter de se mostrar na sociedade; como está escrito em Provérbios 9.12, que diz: "Se fores sábio, para ti sábio serás...", de fato, sábios de verdade detestam chamar atenção para si e para a sabedoria que há neles, pois geralmente ela é ridicularizada, diminuída, e atacada das mais variadas formas pela maioria tola que inunda a sociedade. A sabedoria dos sábios é como a gravidade; uma força extremamente poderosa que produz inúmeros benefícios, mas que não vemos, apenas percebemos as evidências de sua existência e a ação dela no meio ambiente. O antigo poeta grego Hesíodo dizia que o maior tesouro de uma pessoa é uma língua econômica; e o próprio rei Salomão diz na segunda parte de Eclesiastes 5.3 que a voz do tolo vem da multidão de palavras

Atualmente temos muitos "sábios sociais" alardeando indiretamente a própria sabedoria, mas que na verdade se utilizam de pseudo sabedoria, ou seja, são especialistas em todas as coisas, são professores, doutores, empresários, políticos, pastores, pesquisadores, jornalistas e muitos outros profissionais que se aproveitam de seu conhecimento técnico e posição para opinarem sobre tudo, principalmente sobre coisas que não tem qualquer ligação com a área de atuação deles, e produzem ou alimentam diversas contendas enquanto tentam convencer, à força, outros indivíduos. Também há uma nova linhagem de "sábios sociais", estes são pessoas que simplesmente perceberam que nos dias atuais qualquer um pode falar o que quiser e se passar por especialista ou projetar uma imagem de "sábio social", contanto que demonstre firmemente suas opiniões nos mais diversos meios possíveis; mas Provérbios 10.14 diz que "Os sábios escondem a sabedoria...", ou seja, enquanto os sábios-loucos estão sempre tentando provar que são sábios através da propagação massiva de suas opiniões, os verdadeiros sábios protegem e guardam, a sabedoria, pois entendem que assim ela produz mais e melhor tanto para eles mesmos quanto para todos ao redor, sem a necessidade de qualquer tipo de reconhecimento externo por parte da sociedade. Certa vez ouvi uma frase que se fixou na minha mente; é uma afirmação do filósofo chinês Lao Tzu, que diz: "Aqueles que sabem não falam (não opinam, não discutem). Aqueles que falam (opinam e discutem) não sabem".

A boa notícia é que qualquer um pode trilhar o caminho da verdadeira sabedoria, e o primeiro passo para isso é parar de se envolver em contendas opinativas, físicas ou virtuais, com os sábios-loucos da sociedade; pois como foi dito pelo escritor norte americano Mark Twain: "Não discuta com tolos, porque te arrastam para o nível deles e te vencem porque possuem mais experiência."; ou seja, quando gastamos nosso tempo discutindo e debatendo opiniões contra um tolo (sábio-louco), não há como vencer, pois mesmo que ele não nos convença a adotar a sua maneira de ver o mundo, mesmo que sejamos capazes de demonstrar que ele não tem razão, nós perdemos, porque tivemos de nos fazer iguais a ele para conseguir tal feito. Provérbios 26.4 diz: "Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também te não faças semelhante a ele.".

A verdadeira sabedoria raras vezes se demonstra por palavras, mas sim por ações. O sábio de verdade compreende que quaisquer palavras, mesmo as Palavras da Verdade podem ser desprezadas por indivíduos com o ego inflado e opiniões firmes e fortes sobre tudo, mas ações são incontestáveis; por isso também foi escrito em Provérbios 23.9: "Não fales aos ouvidos do tolo, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras.".

Os sábios sabem co-existir, mesmo com diferenças de pensamento uns com os outros, mas os tolos (loucos) querem o mundo inteiro só para eles. Os sábios possuem pontos de vista que podem ser examinados de formas pacificas, instrutivas, saudáveis e civilizadas para produzir soluções e sabedoria para os ouvintes de suas palavras e para toda a coletividade por meio de suas ações; já os tolos acham que possuem opiniões, mas não sabem que são as opiniões que os possuem. E por fim, os sábios entendem que quanto mais confiança alguém tem em si mesmo, em suas convicções e em Deus, menor é a necessidade que sentem de dar opiniões sobre todas as coisas.  

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