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“O homem é semelhante à vaidade...” Salmo 144.4



“O homem é semelhante à vaidade; e os seus dias são como a sombra que passa.” Salmo 144.4

O que é o ser humano, senão um amontoado gigantesco de vaidades?

Este texto vai se apoiar sobre as palavras de dois grandes homens que perceberam essa verdade, dois servos de Deus, dois reis; um "poeta" e um "filósofo". Pai e filho, que foram usados pelo Senhor para tecer um grande entendimento capaz de nos fortalecer para vencermos a batalha contra um de nossos maiores inimigos. Nossa própria vaidade.

Praticamente todas as coisas que as pessoas sonham, falam, fazem e buscam atualmente são motivadas por suas vaidades que estão tão profundamente arraigadas no interior delas que as pessoas perdem a própria identidade enquanto indivíduos, ou seja, elas perdem a capacidade de separar quem elas realmente são, das vaidades que estão dentro do próprio coração; logo, passam a considerar que as vaidades que possuem, muitas das quais nutrem desde a infância e adolescência, mesmo aquelas que têm vergonha de admitir, são a exata representação de sua própria existência. Tais pessoas se tornam um com suas vaidades.

Por mais incrível que isso possa parecer, essa forma de pensar é algo que sempre acompanhou a humanidade de modo que há muito tempo atrás Davi foi capaz de perceber esse comportamento e registrá-lo; por isso está escrito: "O homem é semelhante à vaidade..."Salmo 144.4A. O que Davi está dizendo é que cada um de nós é um reflexo das vaidades que carregamos em nosso coração; ou seja, a essência da primeira parte do versículo é: "As pessoas são reflexos das suas próprias vaidades.". Isso ocorre com jovens e com idosos, com tolos e com sábios, com mundanos e com aqueles dentro de congregações, com os que vencem e com os que perdem, com ricos e com pobres, com líderes e com liderados, com famosos e com anônimos, com pessoas do povo e mesmo com reis.

Salomão, filho de Davi, foi além e conseguiu diagnosticar a si mesmo como um reflexo das próprias vaidades. Durante toda a vida, esse famoso rei se dedicou a satisfazer seus sonhos, vontades, metas, planos, objetivos e ambições, mas percebeu que quanto mais ele se envolvia com tais negócios mais preocupações e angustias acumulava sobre os seus ombros; como ele mesmo relatou detalhadamente quando escreveu:

"Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins e plantei neles árvores de toda espécie de fruto. Fiz para mim tanques de água, para regar com eles os bosques em que reverdeciam as árvores. Adquiri servos e servas e tive servos nascidos em casa; também tive grande possessão de vacas e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim, em Jerusalém. Amontoei para mim prata, e ouro, e joias de reis e das províncias; provi-me de cantores, e de cantoras, e de delícias dos filhos dos homens, e de instrumentos de música de toda sorte. Engrandeci-me e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim, em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria. E tudo o quanto desejaram os meus olhos não lhos neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho..." Eclesiastes 2.4-10. 

Qualquer pessoa atualmente diria que este é o relato triunfante de um vencedor, um homem bem sucedido sob todos os aspectos, que quebrou todos os recordes que estavam na sua frente, superou seus antepassados e também seus contemporâneos; um conquistador, um realizador, um empreendedor, um líder que alcançou e avançou além de todas as expectativas que repousavam sobre ele. Sim, tudo isso é, de certa forma, verdade, mas existem efeitos colaterais. Muitos hoje em dia diriam que esse é o caminho dos que sonham e trabalham duro, dos que usam a sabedoria para transformar seus sonhos e vontades em realidade e que qualquer um pode e deve, guardadas as devidas proporções, alcançar a magnitude semelhante a que Salomão alcançou, ou, ao menos, atingir a maior magnitude possível para sua própria vida; eles também diriam que nesse processo repousa a nobreza para a vida dos nossos tempos. Porém, os verdadeiros cristãos sabem que: "A vida de qualquer não consiste na abundância do que possui..." Lucas 12.15; de fato, não há nobreza alguma em ser superior às pessoas que rodeiam você; a verdadeira nobreza está em ser superior a si mesmo.

O relato bíblico acima parece ser a orgulhosa narração pessoal de um rei extremamente bem sucedido em tudo o que se propôs a realizar durante a vida, mas quando olhamos mais de perto percebemos que é, na verdade, uma descrição sincera, e até um tanto melancólica, de um homem soterrado pelo peso de suas posses e pelo fardo de suas realizações e vitórias sociais.

Veja o que o próprio Salomão relatou logo em seguida: "...E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para todo o trabalho que eu, trabalhando, havia feito; e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito..." Eclesiastes 2.4-11. Não sei se você percebeu, mas Salomão não estava apenas revelando que a vida social dele, mesmo sendo tão sábio e usando a sabedoria em todo esse processo, pois disse: "...perseverou também comigo a minha sabedoria...", e mesmo alcançando tanto; se resumiu a uma busca sem sentido e motivada por suas próprias vaidades; como também, sem saber, o sábio rei resumiu, com precisão cirúrgica, a vida da maioria das pessoas na nossa sociedade atual. 

Tudo o que as pessoas enxergam atualmente é uma competição estranha que possuem uns com os outros e seus próprios impulsos de possuir, consumir, conquistar, superar, comprar, ganhar e fazer o máximo que puderem, na esperança tola de escreverem seus nomes em alguma "calçada da fama" ou "lista de notáveis" imaginária, de sua família, da empresa onde trabalham, da congregação que frequentam, da escola onde estudam, ou qualquer outro lugar. Salomão, entretanto, como era um homem verdadeiramente sábio, foi capaz de fazer algo que a maioria de nós não têm conseguido, que é tomar consciência plena de que grande parte de seus sonhos, atos, feitos e realizações haviam sido impulsionados e concretizados para alimentar as vaidades do coração dele.

Tal consciência é, ainda nos dias atuais, extremamente rara, pois a maioria absoluta dos indivíduos desperdiça a preciosa vida que lhes foi confiada apenas lutando para alcançar os sonhos, feitos, realizações e os tesouros que o nosso tempo e a nossa sociedade esperam de nós, vez após vez, pessoa após pessoa, sem compreender que esse modelo de vida faz com que qualquer um gaste seus dias a esmo, aleatória, inconsciente e alienadamente; sem que percebam que a vida deles está se esgotando nessas buscas transloucadas tal como a sombra da noite que passa enquanto dormimos. O rei guerreiro e poeta, Davi, também foi capaz de vislumbrar isso, e a respeito destas pessoas falou: "...Os seus dias são como a sombra que passa." Salmo 144.4B.

Ao registrar que o homem é semelhante à vaidade e os seus dias são como a sombra que passam, Davi estava reportando que essa é a forma como as pessoas tendem a viver, ou seja, homens e mulheres de todas as épocas e idades se permitem, inconscientemente, mas em alguns casos, conscientemente, ser reduzidos a meros reflexos de suas vaidades sociais; tomam a forma das vaidades para viver em função delas; e como consequência disso desperdiçam grande parte, ou todos, os anos que o Criador lhes concedeu sobre a face da terra; e isso já tem acontecido desde que a sociedade, como as conhecemos, surgiu. 

Eis um exemplo: No passado, os faraós Qéops, Quefren e Miquerinos, mandaram construir para si grandes pirâmides, que a sociedade mundana moderna considera como maravilhas do mundo antigo, e até são, mas também são grandes monumentos erguidos para refletir o tamanho da vaidade daqueles reis do passado; que ao contrário de Salomão, não foram capazes de perceber o quão dominados estavam. Tais estruturas tão grandiosas, na verdade, serviram apensa como tumbas para abrigar os restos físicos dos corpos daqueles reis que desperdiçaram a vida apenas demonstrando sua vaidade abertamente para seus contemporâneos e compatriotas. E acredite, pensamentos e comportamentos muito semelhante a este, guardadas as devidas proporções, têm sido cultivados por pessoas de praticamente todas as classes sociais nos dias de hoje, tanto fora quanto dentro de congregações, e se não conseguirem perceber que estão desvirtuados nessa busca por refletir suas vaidades, terão um fim parecido com o daqueles faraós; ou seja, alcançarão tudo o que desejarem, mas viverão de maneira vazia.    

E por que estou contando tudo isso?

Porque todo cristão verdadeiro sabe que a experiência de vida e as sábias conclusões de Davi e Salomão foram registradas para servir de apoio na construção de nossa própria sabedoria e estilo de viver, logo, nós também percebemos que não devemos, seguir pelo mesmo caminho dos faltos de entendimento; nós não precisamos esforçar ou sacrificar nossa vida durante anos e décadas tentando satisfazer as vaidades que estão dentro do nosso coração; e não se engane, pois elas estão lá, várias delas, uma multidão delas, apenas esperando uma brecha ou nosso consentimento consciente ou inconsciente, para tomar o controle de nossas ações. Isso certamente acontece com todas as pessoas, mesmo as que estão dentro de congregações, muito mais do que você e eu gostaríamos ou temos coragem de admitir publicamente; e se vivermos seguindo nossas vaidades nos assemelharemos a elas e perceberemos, tarde demais, se percebermos, com grande pesar e melancolia, que lançamos fora nossas forças e nossos dias, em vão, acumulando sofrimentos provenientes de nossas vaidades, o que a escritura chama de "aflições de espírito"; neutralizando e esterilizando nossa existência por causa dessa ignorância e negligência. A maioria das pessoas não percebem tal coisa e passam pela vida sem nunca ter realmente vivido, mesmo aparentemente tendo conquistado tanto aos olhos do mundo.  


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