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“O que confia no próprio coração é insensato.” Provérbios 28.26


 

“O que confia no próprio coração é insensato.” Provérbios 28.26

É sensato morar dentro de uma caverna atualmente? Você gostaria de morar em uma? O problema é que talvez você esteja fazendo isso e nem tenha notado.

Mas o que é que esse negócio de morar em caverna tem a ver com Provérbios 28.26? Bem. Até o final desse texto você vai compreender melhor. Deixe-me desenvolver o seguinte raciocínio com você.

Eu diria que entre 80 a 90% da população mundial é completamente prisioneira do próprio coração e nem têm a mínima noção disso; e essa é, sem dúvida, a principal causa da quantidade cada vez maior de sofrimento que as multidões estão criando e impondo, violentamente, a si mesmos durante todo o tempo de vida que têm à disposição.

Mas antes de prosseguir, deixe-me esclarecer o que o coração humano realmente é, pois isso tornará muito mais fácil a compreensão da essência de Provérbios 28.26. O coração é a unidade entre os pensamentos, os sentimentos, as emoções e as intenções de uma pessoa, tais coisas podem ser boas ou más, porém, por "padrão", como resultado da corrupção que tomou conta da humanidade através da queda de Adão e Eva, a maioria absoluta dos pensamentos, sentimentos, emoções e intenções do coração humano tendem a se inclinar mais para o que é mau do que para o que é bom; como Marcos 7.21-22 deixa claro ao afirmar: "Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.".

Então você diz: Ora! Todos nós sabemos que nossos pensamentos, sentimentos, emoções e intenções são produzidos e processados na nossa mente.

Exato. Pois quando a bíblia fala sobre o nosso coração, ela está se referindo a uma parte específica da nossa mente, a parte que produz, interpreta e manuseia nossos pensamentos, sentimentos, emoções e intenções. Certo. Sabendo disso, podemos concluir com segurança que as pessoas que confiam no próprio coração são justamente aquelas que acreditam incondicionalmente em seus próprios pensamentos, sentimentos, emoções e intenções.

E por que o texto de Provérbios 28.26 diz que tais pessoas são insensatas?

Primeiramente deixe-me dizer que a insensatez é um dos elementos fundamentais que formam a base do que vários filósofos antigos chamavam de "Stultitia", que significa estultícia, (tolice ou estupidez); que por sua vez é o oposto da "Sapientia" que significa sabedoria. De fato, pessoas insensatas, mesmo que possuam alto nível de status, fortuna, autoridade social ou conhecimento, têm enorme dificuldade de encontrar verdadeira satisfação permanente na vida; inclusive, uma das músicas mais famosas de todos os tempos na sociedade é justamente uma da banda inglesa The Rolling Stones, que diz: "I can't get no satisfaction", que traduzida significa: "Eu não consigo me satisfazer". Coincidência? Creio que não. Tais pessoas estão sempre sentindo uma sensação, ora mais perceptível e ora menos; ora mais branda e ora mais violenta, de que algo está faltando na vida deles.

É como se eles nunca conseguissem realmente viver, mesmo possuindo todas as condições para fazê-lo. E foi por causa disso que a Escritura Sagrada exortou os verdadeiros cristãos com o que está registrado em Provérbios 9.6a, que diz: "Deixai os insensatos e vivei...". Agora. Voltando à pergunta anterior; o motivo de Provérbios 28.26 afirmar que os que confiam no próprio coração (pensamentos, sentimentos, emoções e intenções) são insensatos, é porque na maioria absoluta das vezes em que alguém faz isso está, na verdade, fortalecendo um inimigo pernicioso e sorrateiro que habita dentro delas; o Ego, e acreditando em ilusões verossímeis e dissimuladas, produzidas internamente pelo seu próprio Ego para enganar a eles mesmos. Eis um dos motivos pelos quais foi escrito em Jeremias 17.9, a seguinte declaração: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas...". Toda vez que nos apegamos e nos identificamos com pensamentos, sentimentos, emoções e intenções enganosas estamos, inconscientemente, servindo e fortalecendo o nosso Ego. 

Os sábios não acreditam em seu próprios pensamentos, sentimentos, emoções e intenções; por mais contraditório que isso possa parecer, mas a verdade é que a sabedoria é, por natureza, algo paradoxal (contraditório), ou seja, quanto mais alguém se vê como sábio, menos é; e quanto menos sábio alguém se acha, mais sabedoria possui. Por isso foi escrito em Provérbios 3.7a: "Não sejas sábio a teus próprios olhos...". Qualquer sábio de verdade compreende que seu próprio coração, ou seja, seus próprios pensamentos, sentimentos, emoções e intenções não são verdades absolutas; ao contrário, eles sabem que não é apenas porque um pensamento sentimento, emoção ou intenção surge em nossa cabeça que devemos seguir tais impulsos ou adotá-los irrestritamente como se fossem nossos. De fato, todos esses impulsos são fenômenos neurais produzidos automaticamente pelo nosso cérebro; eles surgem instintivamente pelo simples fato de nosso cérebro estar funcionando (bem ou mal) e também como reação a estímulos externos (situações, circunstâncias e influências cotidianas) ou internos (outros pensamentos, sentimentos, emoções e intenções anteriores).

E o que tudo isso quer dizer?

Quer dizer que embora Deus tenha nos dado a capacidade de pensar claramente esquadrinhando nosso próprio coração, para nos desapegarmos, desidentificarmos e eliminarmos todo e qualquer pensamento, sentimento, emoção e intenção ilusórias, criadas automaticamente pelo nosso cérebro para nos aprisionar; a maioria dos indivíduos não faz isso, eles se acostumaram a adotar, e se identificar (tornar parte da própria identidade) todos os impulsos produzidos de forma instintiva e inconsciente pelo próprio cérebro, logo, quando o cérebro deles produz, raiva, medo, dúvida, melancolia, preguiça, nostalgia, inveja, ciúmes, desejo, desespero, paixão, timidez, empolgação, tristeza, alegria, culpa, frustração, insatisfação, ansiedade, confusão, prazer, drama, vitimização, autodepreciação, comparação e tantas outras coisas como essas, eles apenas seguem o fluxo do próprio cérebro (confiam no seu próprio coração) e começam a pensar, sentir, falar e agir de acordo com as ordens que recebem de cada um dos impulsos enganosos que estiverem predominando em seu cérebro em determinado momento; sem questioná-los, sem examiná-los devidamente, sem observá-los com diligência; simplesmente obedecem; dessa maneira são "possuídos" por tais impulsos e acabam sendo levados a cometer diversas falhas de percepção e julgamentos equivocados tanto em coisas e ocasiões banais quanto nas que são cruciais. Tais indivíduos geralmente rotulam outras pessoas, tiram conclusões precipitadas das circunstâncias, possuem o temperamento volátil, são pessimistas (ou "realistas", como gostam de dizer).

Eis alguns exemplos simples de pessoas que confiam no próprio coração:

* Um motorista tem o seu carro atingido e danificado no trânsito; o cérebro dele automaticamente produz um sentimento, a ira; o Ego dele grita: "reaja!". Então tal motorista imediatamente adota aquela ira como sendo sua e começa a falar e a agir de maneira extremamente agressiva. (Você já viu isso acontecer?)

* A pessoa comete um erro; o cérebro dela gera culpa; o Ego dela diz: "Você não faz nada certo!". Automaticamente tal pessoa se identifica por inteiro com aquela culpa e passa a sofrer e a ser consumido por ela. (Você conhece alguém assim?) 

* Ao passar por alguma situação difícil, o cérebro de qualquer um produz tristeza; O Ego ordena: "Sofra!"; e tais pessoas se identificam com essa tristeza e perdem o ânimo para agir e modificar a situação. (Você já passou por isso?)

* Muitas pessoas, quando se percebem diante de um desafio, ou até mesmo uma grande oportunidade, não se dão conta de que seu cérebro automaticamente produz medo; O Ego deles fala: "Vai dar muito errado!"; logo, eles inconscientemente se agarram a esse medo e ficam paralisados por ele. (Parece familiar?)

*Ao meditar na Escritura Sagrada um indivíduo "ouve" a voz de Deus, ensinando algo importante que deve ser feito, automaticamente o cérebro dele gera incredulidade; imediatamente o Ego afirma: "Não foi Deus!"; e sem se dar conta de que essa reação do cérebro não é da pessoa, mas sim apenas do cérebro, tal indivíduo se apega à incredulidade e a torna parte dele, logo, abdica da revelação e da inspiração divina que recebeu e deixa de ser aperfeiçoado pela fé. (Isso é muito mais comum do que parece).

* Alguém xinga você, fala mal de você ou do time de futebol que você torce, de uma pessoa que você gosta, do partido político que você apoia ou da congregação que você frequenta; automaticamente a sua mente cria uma quantidade massiva de revolta, o seu Ego grita: "Agrida!", e você imediatamente se agarra com todas as suas forças mentais a essa revolta e, sem pensar duas vezes, parte para o "contra-ataque", ofendendo e agredindo verbalmente (ou por escrito), virtualmente, ou até fisicamente, a outra pessoa. (Eu sei que você jamais fez isso, mas acredite, há muitas pessoas, e cada vez mais, que fazem).

Esses são apenas alguns exemplos bem simples de como as pessoas têm seguido o fluxo dos próprios pensamentos, sentimentos, emoções e intenções, confiando que tais coisas estão completamente corretas e sem perceber que fazer isso é extremamente ruim para a vida de qualquer um.

Mas por que é tão ruim seguir o fluxo dos próprios sentimentos, emoções, pensamentos e intenções? Ou seja, por que é tão ruim confiar inteiramente no próprio coração?

Porque todos esses elementos que compõem o coração humano, quando deixados sem a devida supervisão, acabam sempre "desaguando", e nos arrastando com eles, para o mesmo "lugar"; o sofrimento autoimposto, ou seja, permitir que nossos pensamentos, sentimentos emoções e intenções naturalmente fluam através de nós sem que haja consciência plena, clareza e lucidez de nossa parte, sobre eles, para examiná-los minunciosamente, um a um, é dar "carta branca" (permissão absoluta) para que o nosso coração (a parte da nossa mente que governa esses elementos, nos mergulhe em todo tipo de aflições de espírito (sofrimentos) sem sentido; de fato, quando começamos a praticar o hábito de esquadrinhar (examinar minunciosamente) nosso próprio coração, usando a Escritura Sagrada como Base para conseguir ver claramente os impulsos que são gerados dentro de nós, afim de cultivarmos apenas os impulsos virtuosos e nos desvencilharmos dos impulsos viciosos; começamos a perceber que a maior parte do sofrimento, das aflições de espírito, que nos afetam, as vezes profundamente, foram produzidas por nós mesmos, ou melhor dizendo, por nosso Ego, que está sempre se passando por nós. E o pior é que todo sofrimento autoimposto tende a ser amplificado pelo seu próprio eco dentro da nossa cabeça, assim sendo, em pouco tempo nossa mente pode se tornar uma gigantesca cacofonia que não nos permitirá ter paz interior e nos manterá em um estado mental constante e crescente de agitação, insatisfação, opressão e perturbação. Nosso Ego adora exagerar.

Há multidões vivendo exatamente assim atualmente, pessoas com o pensamento acelerado, emocionalmente instáveis, sentimentalmente frágeis e com as intenções inconstantes e manipuláveis; facilmente arrastadas de um lado a outro por qualquer ideia, promessa, moda, influência ou tendência que a sociedade as apresente. Tudo isso acontecendo porque ignoram, ou não se importam, com o fato de que podem, e devem, colocar o próprio coração sob forte vigilância constante, deixando de confiar 100% nele. Também por isso foi escrito em Provérbios 4.23 o conhecido texto que diz: "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida."

O que confia no próprio coração (pensamentos, sentimentos, emoções e intenções) é como alguém que resolveu viver dentro de uma caverna mental e acha que as paredes irregulares e rochosas de tal "caverna" correspondem a tudo o que há no mundo exterior; ou seja, estão voluntariamente e inconscientemente presos; e não há nada mais insensato do que viver sob o julgo da própria inconsciência, pois ela permite que todas as influências negativas, internas e externas, que o espírito do mundo colocou em nós e em nosso redor tomem o controle absoluto de toda a nossa maneira de viver.


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